Descansas em plácido sono, bela defunta!
O branco-alvo da mortalha envolve o corpo teu...
Entrelaçadas às mãos, no peito, juntas,
Quedam-se inertes e frias e mortas como eu...
Desnudar teu véu e tocar - num tépido beijo -,
Teus lábios ressequidos, tênues, e oh, tão gelados!
Insano delírio!...Doida volúpia!...Que desejo
De te beijar os frios lábios descorados!
Tão sem brilho, teu olhar é como laje tumular!
Encerra em mim, no prazer de uma languidez profunda,
A mórbida lascívia de querer-te amar!
Como o disse *Solfieri aos amigos na sombria taverna:
**“- Guardei-lhe como amuleto a coroa de defunta!
- Vede-a?!...E murcha e seca como o crânio dela!”
(® tanatus - 15/10/2006)
* Solfieri – Personagem do conto SOLFIERI,
de “Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo.
** Fala de Solfieri no final do conto.