.
.
.
.
.
.
.
.
....................................
****************************************
…
é-me longínqua a linha do horizonte,
que escaqueira a ondulaçao invisivel do sonho manso,
mansidão que se deseja encabritar em ânsias,
mas que se atrofia sem beijo, sem toque ou cheiro,
destinos incumpridos, direi.
Nos olhos extasiados pela longitude,
prometem-se outros mundos férteis em belezas, desertos
de almas, ou de olhares, prometer-me-ei um dia.
Destinos, direi.
Os homens lançam-se ao mar, sem temer a preia-mar,
as mulheres de negro miram o céu que se abre em azul,
ajoelham-se como pedintes, cumpridoras do ser em súplica,
e mesmo rastejando pelo areal,
jamais serão envolvidas pelo ténue abraço do sol que
insiste em permanecer, vão-se as visões.
Ouve-se o ranger da madeira, os solavancos da ondulação,
“- mar arriba... mar arriba!”, grita-se,
e o leme que antes roçava as areias, orienta rota,
nada, apenas direi.
Resto-me apenas, o olhar[?]
extasiado, direi.
o mar arriba adv adiante.
Encabritar -trepar
É um texto disperso algures, que se entrega ao mar e à terra e foge de ambos. Sim conheci quem tenha ficado pelo mar, sim conheci a faina dos pescadores e das mulheres de negro por uma teca de peixe e vi as redes serem lançadas, puxadas, cozidas, e a festa pelas tardes de verão, os choros pelos desertos areais de inverno onde o ondular não deixa avistar a linha do horizonte lá arriba.
Lembrei-me de Zeca Pagodinho
“Quando A Gira Girou”
“O céu de repente anuviou
E o vento agitou as ondas do mar
E o que o temporal levou
Foi tudo que deu pra guardar”
Lembrei Zeca Afonso
“Cantigas de Maio”
“Minha mãe quando eu morrer
Ai chore por quem muito amargou
Para então dizer ao mundo
Ai Deus mo deu Ai Deus mo levou”
Lembrei-me, apenas.