NA PAZ DO CRIADOR
No cume do meu descontentamento,
daqueles que um Homem sente
da vida e da pátria amada,
meti-me por entre penedias,
revendo histórias e troicanas fantasias,
e fiz-me à Serra, calma, serena
e indiferente ao meu tormento.
Do cimo mais alto da Mourela,
sentindo o vento frio no rosto,
que ali corre no mês de agosto,
vi tudo em quadro de aguarela,
que nenhum pintor pintou.
A urze florida, radiosa,
a carqueja, sempre formosa,
vidos, giestas, pinheiros,
carvalhos e castanheiros,
ondulando ao vento
numa dança de sossego,
que uma águia-real observou.
E eis-me ali, no meu tormento!...
Sentei-me, numa pedra, ao vento,
por cima do meu tormento,
por baixo daquele calor;
gritei com raiva um impropério,
daqueles que fazem corar o Barroso,
e com enorme gozo
deitei fora o descontentamento,
curti a Paz do Criador.
( Acácio Costa)