DUNGA ZANGADO, O MESTRE
Maio de 2010
Finalmente acabou a novela protagonizada pelo Sr. Dunga, incipiente treinador de futebol, um principiante, mas não ignorante das coisas da bola como alguns querem fazer crer; insipiente? Jamais. Ele emergiu de repente, depois de imergir a carreira de médio-volante, dependurando as chuteiras, e saindo deste mergulho, vir à tona travestido de técnico. Vívido e vivido, o capitão pentacampeão, de jogadas ardentes, sempre vivaz à frente da zaga, não deixava fluir as jogadas nem correr os adversários. Assim, impedia a fruição dos atacantes, no gozo de um gol a desfrutar uma vitória.
Hoje, sob luzes e holofotes, nada impreciso, nada incerto, o Sr. Dunga na apresentação do time da copa, com alguns super-craques não inseridos, nos deixou surpresos com algumas ausências. E neste contexto, suas idéias por não convocar Adriano e Ronaldinho eu não contesto, mas questiono. Suas palavras soam nos meus ouvidos e o som gaúcho do sotaque me faz suar, transpirar. Saio da sala e com passadas largas, pego água e vou ao paço, isto é, à varanda; iludido com o hexa, enganado por um Dunga que começou sorrindo e terminou zangado.
Como vou torcer por este time? Como se eludir das buzinas e das camisas amarelas? Um extrato dessa seleção teria Júlio César, Lúcio, Kaká e Robinho. O quarteto forma a essência da seleção, mas como viver vendo Ganso, Neymar, Ronaldinho, Adriano e Diego Tardelli longe como estratos dispersos no céu azul? Vamos recriar a seleção e esquecer a de Dunga e recrear a galera, divertir a torcida com as jogadas geniais dos “renegados”; vamos sonhar e nos iludir. Dunga vai expiar a falta de criatividade e ousadia se não for campeão, sofrendo o castigo de Feola em 1962. Vamos espionar os treinos secretos e espiar os abertos, observando se o time evolui ou não. Até parece que o futebol brasileiro está desapercebido de craques, mas não passou despercebida a irritação do técnico, estático com algumas perguntas dos jornalistas e extático com a própria figura, com os três títulos conquistados com a seleção, com o poder de anunciar quem vai e de tentar explicar porque Adriano não vai. Espelho, espelho meu... Êpa! Esta é outra história.
Esta novela ascendeu em audiência, e muito mais do que a outra que também está terminando. Mas, por favor, desliguem a televisão e acendam a luz, porque eu preciso viver a vida, antes que a Copa comece. Porém, se eu parecer insipiente desde a primeira partida, deixem. Deixem fruir minha alma verde e amarela e suar o meu corpo mestiço a cada gol canarinho. Quem sabe esse Dunga travestido de Mestre não traz o hexa e a gente esquece que ele, no fundo, é Zangado. Vambora, Brasil!