[Cão dos infernos! Outros haverão de agir — não eu!]
Por que hei de ser eu a fazer algo
a respeito dessa ou daquela dor?!
Os atos de todos os que me precederam
tornaram este mundo um patíbulo atroz!
Como posso eu, imperfeito, vil, reles,
malsofrido de minhas penas, querer
um mundo conforme aos meus atos!?
Ah... a fatídica danação de Sísifo!
Bem sei — tem profundas raízes
e muito ampla ramada
essa árvore sob cuja sombra
eu estou placidamente recostado.
Nem é preciso que eu me erga,
pois os seus galhos benevolentes
chegam a tocar o chão a sua volta
para trazer os frutos a minha mão.
Um arco não retesado não dispara flechas...
E assim, de ânimo lasso, passo os meus dias
a saborear languidamente os frutos macios
que edulcoram a minha inércia de viver...
Nenhum músculo meu se mexerá,
nenhuma folha cairá daquela árvore,
e os seus frutos não vão se acabar;
a menos que uma ventania...
[Rogo uma praga a todos os homens
de ação que me legaram este mundo vil;
e prometo entregar-me à total inação
para não torná-lo ainda pior!]