Tragam uma tarde cinzenta
E uma boa dose de whisque
Talvez possamos espantar a tristeza
E encontrar uma razão para cantar.
Sim, a razão que insiste em manter
A prateleira arrumada,
A cama bem forrada, o chão limpo
E cada coisa em seu lugar.
Ao diabo essas correias
Que querem nos amordaçar
Tragam a foto de uma mulher nua
Ou um pedaço da estrela polar
Vamos ouvir o som do vento
Batendo nas velhas árvores
E escrever poesia com a urina
Das múmias petrificadas.
Podemos também ficar em silêncio
Diante das antigas estátuas
Observando os gatos
A caminhar no telhado de vidro.
Depois da tarde pode vir uma noite morena
E com ela todas as assombrações frustradas
Por não haverem encontrado nenhum deus
Faremos um bacanal de almas penadas
Tragam também o gosto de um adeus
E o perfume de uma saudade
Para que nenhum compasso
Seja preenchido com a pausa do tempo.
Deixem cair as vestes
E rasguem seus medos
Afinal tudo um dia vai virar pó
Já não importarão os segredos.