Fernanda! Bem sei que não é para tanto
Que empilha teu corpo num canto
É possível sentir tua dor, teu desatino
Ao som estridente do violino
Como o frio que lhe rasga o tímpano;
Como ópera detentora de tua alma
Como letra corrupta, e nua que te vara
Teu tremor em estupor me aniquila
São tantos julhos que parecem tua sina
A tua alma congelada que apaga até a pira;
Ignoras a dor do parto e do enfarto
Ao te sentir sozinha na penumbra do teu quarto
Pior seriam teus pés sem as duas meias
Meia hora do dia tão fria
Meia hora da noite sem cobrir tua orelha.
Na fresta da porta-janela o ar que penetra
Parece cercar atrita a mulher que detesta
A fria parede que mente a textura
Calendário de Julho, dia trinta que dura
A singela Fernanda, não tem previsão e nem cura;
La fora a pasma lua brinca no frio do açoite
Feito pedra de gelo no amargo vinho da noite
A chuva parece cair como ponta de faca
No quarto a sensação do inusitado frio
A procura do teu coração como estaca;
Fernanda! Bem sei que há de duvidar
Que no virar do calendário
A primavera há de chegar...
Não mais tomarás a lã da cachorra branca
O sangue da ferida do teu pulso estanca
Pois o Julho da folhinha a de arrancar
E um Setembro se aproxima a te esquentar.
Marcelo Henrique Zacarelli
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Village, Maio de 2008 no dia 02.