Talvez tenha mesmo que ser assim, talvez a minha vida inteira se resuma a isso. Os meus suspiros, os meus sonhos, a maneira como acordo, encaro e luto pela vida, as minhas frustrações, as minhas raivas, o meu sangue, o meu amor, e o meu modo de ser. Talvez seja essa a minha poesia, o meu fado, como canção e como destino. Serás tu isso? Será que não passarás dessa distância que sinto tão próxima? És e serás sempre a minha procura, o que sou; afinal não é essa a procura que todo o humano faz durante toda a vida? Hoje caiu uma gota de chuva no meio da minha testa enquanto eu olhava o céu. Tu és essas gotas. És o céu e as estrelas e a lua, isso quando é de noite; porque de dia não és o sol porque brilhas mais que isso. Nunca te vi, nem sei se existes; mas tenho a certeza que brilhas mais que o sol. Tenho inveja de quem te tenha, mas uma raiva ainda maior de quem te tenha e não te saiba dar valor. Tenho ciúmes de quem se cruza contigo na rua, de quem por instantes entrou no teu olhar, e se sentiu dissecado, repartido e redesenhado naquilo que é e nunca foi. Tenho maiores ciúmes ainda de quem teve a ousadia de te olhar...e ver o quão bela és. Ainda hoje quando olho o espelho, me aproximo da minha imagem, olho com olho, me vejo dentro de mim mesmo, à espera de sair, de te encontrar e ser encontrado, Talvez eu não tenha definição. Talvez nunca consiga apresentar-me a ti, porque talvez passe uma vida inteira sem saber quem sou. Acho que tenho que me aceitar como sou; maravilhoso ou deformado, consoante os dias, ou apenas alguém. É aí que reside a verdadeira felicidade, na capacidade que temos de nos enfrentarmos e de nos olharmos no espelho e metendo a mão dentro de nós próprios, sermos capazes de nos resgatar-mos... Se for então esta a história da minha vida; irei aceita-la e irei fazer a magia que o seres humanos sabem sempre como fazer. Vou agarrar nas minhas malas e enche-las de amor, dobrar quem fui, vestir os meus sonhos e rasgar as cartas que te escrevi durante este tempo todo e coloca-las no caixote do quarto. Vou fazer a cama e limpar o pó do quarto, só irei deixar o caixote das cartas desarrumado e por deitar fora. Amanhã vou viajar à tua procura; não pelo mundo, mas pela rotina de sempre. Porque hoje vesti o meu melhor sorriso e assim irei a tua procura; cheio de esperança.
Quem sabe se ao passar por ti na rua não terei a ousadia de te olhar nos olhos e ver-te a definir-me; e aí sim! A terra vai começar a tremer…