Atropelados
Por tanto pressa
Foi nosso amor,
Foi nossa dor
Nas vastas vias
Congestionadas
De estreitas gentes
Em amargor
Nas mãos de Chronos
E devorando
Os próprios filhos,
Mitologias,
Enquanto guiam,
Entre Tifeus,
Titãs e cérberos
E vãs certezas,
Os próprios carros,
Os próprios medos
De sós ficarem
Sem posto ou carro,
Sem cargo ou farra,
Paralisadas
E engarrafadas
Nos vãos, semáforos
De uma avenida
Que só conduz
A inútil pressa
De quem perdeu
Há muito tempo
As mãos e o véu,
Úbere céu
Que nos atavam.
E agora assim
Sem nada mais
Que nos vincule
Sem canto ou messe
Para cantar,
Para ceifar
E que traduzam
Feroz vertigem,
Qualquer verdade,
Perdida herdade
Que nos acolha,
E nos recolha
De frio chão,
Procuro em vão
Por nós, velames,
Por quilha e amarras,
Velhas canções,
Arras, camões,
Canhões, guitarras
Num peito arcano
Que mesmo só
Sem vela e insano
Na estrada imensa
Insiste e canta.