A florzinha azul e o beija-flor
Deu-se a flor por completo ao beija-flor.
Eram um para o outro!
Deixou exalar seu mais suave perfume, iluminou suas pétalas de coloridos azuis, bailou nas aragens mansas, intumesceu os pistilos grávidos de amor.
Deixou-se colher ao aconchego das noites enluaradas, nas promessas de amor, nas juras, dos sonhos de enfeitar a vida.
Sabia dos perigos da mata, das ervas daninhas, dos meninos destruidores e mesmo assim deu-se inteira.
E o beija-flor a visitava; beijavam-se, amavam-se, desejavam-se.
A flor foi crescendo, ficando mais e mais alta, mais e mais aberta.
Um dia o beija-flor não veio. Ela esperou seus beijos, mas eles não vieram...
Procurava entender com seu miolinho amarelinho, o que estaria acontecendo.
Esticava seu caule para olhar mais longe e ver além do jardim.
Os dias fechavam suas janelas, as noites esticavam seus tapetes e nada do beija-flor voltar.
Um dia ela perguntou ao vento:
_ Seu vento, por acaso o senhor viu o meu beija-flor por aí?
E o vento assobiando respondeu:
_ O “seu” beija-flor , florzinha? Que pena que pensa assim!
_ Não entendo o que diz, seo vento! Por que usou esse tom?
Então o vento parou, envolveu-a carinhosamente e disse:
_ “ Seu” beija-flor, florzinha, nunca foi seu de fato. As flores pensam assim, e acabam sempre caindo... O beija-flor voa livre, beija todas as flores, encanta, faz-lhes a corte, mas não fica com nenhuma. Sempre abandona as flores quando já lhes sorveu o mel.
_ Não acredito no senhor! Só pode ser mentira! Eu vou esperar por ele!
_ Ah, florzinha teimosa, não adianta chorar, não! O beija-flor já vai longe, voando em outros jardins. Você não sabe que ele, se protege é voando? Tem medo de parar, ficar quieto nos galhos. Tem medo que as crianças machuquem as suas asas, tem medo que a erva-daninha envenene o seu mel, tem medo de ficar preso numa gaiola feia!
_ O Beija-flor, minha linda, nunca será de ninguém! E desconfio que goste de viver desse seu jeito...
Triste destino da flor, agora despetalada, encurvou seu caule longo, deixou a terra sujar suas pétalas delicadas.
Então o vento chamou a chuva para ajudar a florzinha. E a chuva molhou a flor que tornou a levantar.
Só que agora, mais sábia, se fecha sem mais deixar que nenhum passarinho possa com seu bico roubar, o melzinho da sobra que o beija-flor não quis levar.