Textos : 

e assim comecei a escrever

 
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não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


escrever foi a minha maior descoberta. tão importante como o fogo para o homem pré-histórico [reforço. para mim] – a partir do momento em que comecei a escrever. ganhei voz. corpo. volume e trouxe finalmente algum descanso ao silêncio-barulhento que habitualmente habita e partilha comigo este pré-cadáver – no entanto. este ruído que só eu sei ouvir. não para de me lembrar que por mais palavras inventadas. fabricadas. engendradas. ou seja lá o que for mais. este não silêncio terá sempre o seu lugar cativo no meu desespero. mesmo que eu teime em tornar a minha descoberta na solução de todos os males – bem sei que sou ainda egoísta. interesseiro. talvez até mau carácter. pois escrevo sobretudo a pensar em mim e para mim – mas isto está a mudar aos poucos. um dia destes. acordo diferente. não sei se perdido ou encontrado. passarei a escrever tudo o que deslindo nos outros e nada. mesmo nada. do que esta carcaça guarda [penso que isto não é possível, mas vamos fazer de conta que é] – por isso digo para mim. escritor de meia tijela. escrever é um acto de desespero onde a minha verdade se acorrenta às palavras transcritas para papel – escrever é fazer sobreviver um corpo muito para além de uns lábios que só sabem beijar para saudar. dizer obrigado. estou feliz ou ainda bem que existem – adoro este falar silencioso das palavras – ainda não há terra à vista. mas o tempo corre sempre a favor dos náufragos. quanto mais tempo conseguir manter as palavras à tona da água mais hipóteses há destes textos sobreviverem ao seu autor

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* e assim comecei a escrever o que seria um comentário de duas linhas – mas a escrita tem destas coisas. amarra-nos pela exultação e pela gratidão e pronto. já nada nos consegue parar e vamos por aí fora de linha em linha afortunados por fazer parte deste mundo fantástico das palavras – o amável comentário do meu colega sommerville ao meu texto “ainda sou”. fez o restante – as linhas começaram a aparecer uma atrás de outras. concluindo que para sobreviver neste mundo da escrita amadora é necessário haver leitores – assim vou escrevendo
 
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sampaiorego
 
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Enviado por Tópico
Felipe Mendonça
Publicado: 07/08/2012 21:41  Atualizado: 07/08/2012 21:41
Usuário desde: 01/12/2011
Localidade: Rio de Janeiro
Mensagens: 541
 Re: e assim comecei a escrever
"Escrever é um ato de desespero." Este para mim é o cerne de toda a escrita o qual compartilho contigo, amigo. Uma tentativa de materializar este silêncio ou vazio que anda em todos nós repleto de aflição e ansiedade. Grande abraço.


Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 08/08/2012 12:23  Atualizado: 08/08/2012 12:23
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: e assim comecei a escrever
sampaiorego
Tenho acompanhado a tua escrita
e só me ocorre dizer-te que a admiro
muito porque para além da sensibilidade que
revela há como que um exorcizar de sentimentos
profundos e sentidos.
VF


Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 09/08/2012 00:51  Atualizado: 09/08/2012 00:51
Membro de honra
Usuário desde: 25/01/2009
Localidade: Pouso Alegre - MG
Mensagens: 18598
 Re: e assim comecei a escrever
Somos o outro vivendo de si.
Um naufrágio de palavras que param e pensam,
assim se escrevendo. Palavra conspira palavra.
Tanto e muito unido como horizonte...
Escrever para si é o melhor pecado.
bjs querido


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/08/2012 20:30  Atualizado: 24/08/2012 20:30
 Re: e assim comecei a escrever
Humm há poetas assim Sampaio, escrevem para aliviar emoções: mágoas, saudades, revoltas, alegrias, entre outros mais mil sentimentos...
Abraços
Luzia