A FUGA
O menino fechou os olhos
Inspirando o vento que vinha de longe
De onde sua vista não alcançava
Abriu os braços como Ícaro
Sentindo-se mais leve que o ar.
O menino estava triste no olhar
Mas sorriu ao lembrar como escapara.
Que rastejara como soldado na lama
Que saltara como um ginasta pela casa
Esgueirando-se como criança cegando os pais.
Lembrou do corpo nu do papai
Sobre a mulata de boca grande na ilha
E da barriga da mamãe crescendo.
Abriu os olhos e viu o bebê invadindo sua casa.
E fez xixi no berço novo
E fez cocô no chão do quarto.
Queria dormir e não acordar
Mas não conseguia e chorava.
Chegou no alto sem medo
E lembrou do bebê sorrindo, mangando
E lembrou da mamãe com o bebê, dengando.
Balançou os braços como asas
Balançou as pernas como molas
Esqueceu de tudo e de todos.
Tenho cinco anos, pensou, já vivi muito.
Respirou profundamente
Engoliu seco
Deu um impulso
E pulou.