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quando chegares a cork city deixa-te levar
pela alegria do velho irlandês que entoa o «get on bord!»
ao partir do ballygarvan enquanto tu
o cruzas ainda confuso pelo antigo gaélico segredo;
esta viagem deves fazer sozinho;
atravessarás a winthrop street até a contornares e entrares
na contemporânea phonehouse - não deves esquecer os teus
amigos, longe na solarenga Mostar ainda;
no Ryan’s pub junto das docas, uma fresca guiness de espuma tão leve,]
que o rapaz encherá três vezes, esperando um minuto e meio
entre cada gesto, far-te-á compreender como o mundo
não é mais do que aquilo que tu trazes contigo;
e tu não trazes nada, tu és o começo de tudo,
neste aroma céltico.
um texano hippie, de longa cabeleira, notará como trazes
a aliança do anarquismo no fio do teu pescoço; e quando ele
te perguntar «you’re one?», dir-lhe-ás simplesmente
«I just pretend so», porque queres conhecer;
tu queres desaprender tudo o que europa de te ensinou tão mal
sobre si própria, afinal
na outra margem, deves passear ao longo do river lee;
tu sabes bem como te poderias perder nele para sempre
naquelas águas tão escarpadas e miúdas ao mesmo tempo
onde duendes e gnomos banhavam
os seus arcanos mistérios
nem deste por isso, mas entraste já no countryside
onde tudo é tão verde
tão verde e tão espontâneo, que só o lee
te acompanha agora, à tua direita
sente o sangue a circular pelo teu corpo
consegues escutá-lo, correndo;
agora entendes tudo pela tua pele e não pelo pensamento
que é como se deve saber das coisas com amor
a noite começa e acaba cedo aqui,
com belas raparigas tão loiras e de sorriso tão perfeito;
também aqui a europa em copos de plástico pelo centro da
cidade, que morre pelas onze horas logo e
estranhamente
mas tens ainda tempo
e trazes Mostar ainda no coração, sorris orgulhoso,
porque o amor nos torna orgulhosos
e quando pela noite encontrares o ritual celta nos lábios
saberás que tudo fará sentido daqui a muitos anos, que a juventude]
é essa meia consciência;
mas não agora
não agora, em cork city
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