Ó Lua brilhante e eterna! (O Outro lado da lua)
Ó Lua brilhante e eterna,
Para onde a levaste tu?
E porquê Lua;
Porque a levaste
Para tão longe de mim?
Terá sido inveja tua
Imortal e sensível Lua?
Inveja dos seus cabelos dourados
Que voavam brilhantes no vento,
Tocados pelo sol
Naquele final de tarde em que surgias;
Ainda ténue e apagada
No cimo do céu de onde nos vias?
Terá sido essa a inveja
De não teres cabelo nenhum?
Ó Lua misteriosa e fria;
Porque levaste de mim
O seu olhar doce, vivo e puro?
Também inveja?
Ou pelo desejo de me poderes ver
Como só ela sabia como fazer?
Por dentro
E por fora
E como deve ver-se sempre
Quem de verdade se ama!
Ó lua, tu que iluminas a noite
Fria e escura,
O céu
A terra
E os humanos também.
Poetas, génios
E sabe-se lá mais quem?!
E quem iluminei eu,
Senão essa viva e frágil criatura
Que julgou me conhecer?
Ó lua rainha majestosa nos céus
Terá sido a sua voz que te insultou?
Terá ela te insultado,
Porque ela fala e compreende
A língua que fala a gente;
A língua que falo eu?
A língua que surgiu da sua boca
E enlaçou a minha dançando…
Num abraço ao som de uma música
Que só os humanos
Que sentem amor
Sabem abraçar e dançar?
Terá sido isso lua?
Esse insulto de não teres som nenhum;
De não me poderes falar
Enquanto me vês cega?
Ó lua poderosa e enorme
Terá te chocado a sua pele morena?
A sua pele suave e saborosa
Que eu vaguei perdido com os lábios.
Tu que és tão pálida
E fria e distante de mim
E dos meus lábios…
Terá sido essa a tua inveja,
O teu desejo?
Ou essa inveja e desejo
Que te insultaram e chocaram
Quando caíste suspensa nessa realidade
De estares demasiado longe de mim?
Porque a levas-te a ela
Inocente nesta guerra de sentimentos
E de paixões que tens por mim?
Mas lua eu amo-a, a ela, humana
E não a ti, Deusa!
A ti, que só temo
E admiro profundamente
Como o animal que sou;
Que nunca compreenderá
A solidão profunda e negra
Que só um Deus sabe ter.
Os humanos são estúpidos lua!
E morrem!
E matam-se uns aos outros!
Uns pelos outros,
Quer pelo amor
Quer pelo ódio.
Mas tu és um Deus,
Moras no céu oculto
Onde desejam voar os mais estúpidos e sonhadores.
Acima de tudo e todos;
Ai estás tu calma e serena
Mas no entanto capaz de tempestades…
Ò lua que és um Deus!
Não morres
E possuis o conhecimento de todas as eras;
Diz-me lá então
Na tua sabedoria imortal.
Se me amas,
Porque não mostras o lado negro de ti?
Terás a minha amada escondida aí?
Para que cada vez que a saudade aperte em mim
Eu tenha meus olhos fitos no azul;
E crie em ti a ilusão
Que é por ti que eles procuram?
22= É tempo de apareceres.