todos os dias
escrevias palavras
que ias deixando penduradas
nos beirais das casas
grandes
e consentias que as mesmas parissem
poemas
de onde saiam pessoas e aves e deuses
envoltos
em marés bravas
então
deixavas.me ficar suspensa
no vértice da emoção
e trazias o poema molhado
como se o mesmo
fosse o resultado de algo
que havíamos construído juntos
eu estava ali
e tu descias a rua pendurado na tua
própria sombra
eras o reflexo
o desabafo
a angústia
de algo em construção
eras o outro
o poeta construído