CRÔNICA:
Bem, é nos transportes públicos que tenho chance de conhecer e conversar com pessoas que tem uma história de vida para contar.
Já fiz uma crônica chamada A SENHORA DO ÔNIBUS, e está aqui entre meus textos. Ontem, voltando da péssima experiência no dentista, conheci um senhor que era uma pérola! Ele era de pele negra, alto, sorriso aberto (embora faltasse alguns dentes), vestido muito melhor que muita gente por aí, mineirinho, que eu reconheci imediatamente pelo "UAI", mas o que mais era surpreendente era sua idade: 102 anos!
Havia nascido no começo do século XX, em 1910.
Conhecia a Cidade Maravilhosa toda, mas morava há anos, em Maricá. Sua esposa também era anciã: 90 anos.
Revelou-me em pouco menos de 20 minutos de trajeto do centro de Maricá, até São José, onde moro, muito de si:
Contou-me que nunca traíra a esposa em tantos anos de casamento e que achava os homens de uma maneira geral muito burros, porque muitos traíam as mulheres, a vida inteira.
Perguntei (mesmo com a boca toda anestesiada, mas como a minha vontade de interagir com as pessoas, é imensa), o segredo da sua longevidade:
_ Mas qual é o segredo de tanta vitalidade? O senhor está muito melhor que esses jovens por aí! Pensei que tinha no máximo uns 75 anos!
O que ele me rerspondeu:
_ O SEGREDO É NÃO ESQUENTAR A CABEÇA COM NADA!
Eu e minha velha, termos nossa plantaçãozinha no terreno, levantamos cedo e cuidamos, saio para todos os lados, falo com todo mundo, todos me conhecem em todo lugar que vou. É isso... PARA SE VIVER MUITO, TEM QUE SABER VIVER.
Bem, eu pensei, se depender disso metade da população do planeta vai sucumbir, pela vida agitada, corrida de todos, e a falta de compreensão e tolerância existente por aí ...
De qualquer forma, ele foi uma lição de vida... Mais um personagem real, para meus textos.
Falamos mais um pouco das coisas do mundo e da vida, de maneira geral e a essa altura uma mulher de 28 anos, se juntou à nossa conversa, pois estava sentada ao lado dele, no último banco do ônibus.
Como era de se esperar ele já a conhecia de 'vista', de outro bairro, e ao marido dela (que era 30 anos mais velho que ela).
Ela não acreditava que ele tivesse essa idade toda. O senhor pôs a mão no casaco impermeável que vestia, à procura de sua identidade... Mas lembrou ao notar a falta, que tinha deixado em casa.
Eu lhe disse:
_ Não precisa mostrar nada, nós acreditamos! E mais uma coisa: O senhor está de parabéns, considere-se uma pessoa abençoada! Viver até hoje, e assim bem disposto, é de dar exemplo nesses jovens que não querem nada e por tudo ficam deprimidos!
Percebi que chegava meu ponto. Despedi-me dele e da tal moça que sentava ao seu lado.
Antes porém, fiquei sabendo que ela também era do Rio, como eu, e do mesmo bairro de lá: Irajá. A frase veio a seguir, inevitável:
_ Como esse mundo é pequeno!
Eles acenaram com as mãos, quando eu já descia os degraus do ônibus. Guardei tudo na memória, para aqui deixar mais essa passagem de vida, como exemplo:
FAÇA VALER SEU TEMPO, VIVA E DEIXE VIVER, A LONGEVIDADE ESTARÁ GARANTIDA!
Fátima Abreu