Coitado do Zé de Zuia - Lizaldo Vieira
Gente cansada
Explorada
Usada
Descartada
Marginalizada
Ignora
A caneta desgastada
Pela piçarra
Cadeado de saco
É o nó
Inda tem mulher pra parir
Filharada pra criar
Rapé no tabaqueiro pra cheirar
Farinha e sal na cuia
E um cachorro vira-lata
Que espanta o mau
Gente do mato
Afeita a uma pescaria de jereré
Catar lenha na capoeira
Chupar cana com nó e tudo
Pele queimada
Barriga de samburá
Carregada de sonhos
Esquecida de tudo
Nada de maldade na mente
Vida indigente
Na indiferença
Do mundo sem providencia
Na mochila o cumê sem elaboração
Na cabaça uns pingos d água
Sem tratamento
La vai ele
Sabe tudo da roça
Sabe nada do mundo
Sem sapato de napa ou de couro
Vidinha rustica
Brasuca em desgraça
Boca de cratera
Mãos calejadas
Pés mal acostumados com a coceira
Do bicho de pé
Mora em casebre de taipa
Coberta por sapé
Come e bebe na lata
Dorme na esteira
Vida em harmonia com o simplório
Feita de fé nos santos de devoção
Nem sempre triste
Às vezes parece feliz
Ignorando os saberes modernos
Vida do mundo sem eira nem beira
Na grandeza de quebradeira
Sujeita a fome sem providencia
Mas
Contenta-se com vida de gado
Boi de carga
Saco de pancada
Contudo
Longe da violência urbana
Do transito caótico
Da fila pra comprar banana
E do saque aos serviços
Biodiversos
Do planeta nosso
De cada dia
Q U E S E D A N E C U S T O d e V I D A - Lizaldo Vieira
Meu deus
Tá danado
É todo santo dia
O mesmo recado
La vem o noticiário
Com a
estória das bolsas
Do que sobe e desce no mercado
De Tóquio
Nasdaq
São paulo
É dólar que aume...