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mnemosine

 
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não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


mas na verdade eu queria mesmo era falar contigo. dizer apenas um olá. um bom dia. um como está passando? e os sorrisos? encantados como sempre – e então quando tomamos um cafezinho naquele botequim feito de palavras? estou ansioso para te mostrar dois verbos novos que encontrei a fazer uns arrumos à vida que já passou - irias gostar de os conhecer - estavam amarrados a dois adjetivos que nunca adjetivaram coisa nenhuma – confesso. eram tão maus que nunca os levei à rua. acabaram por ficar esquecidos - o tempo passou e agora tudo é diferente. estou mais velho. e o cheiro das palavras já não é igual - no passado estava mais à procura de coisas novas e agora quero achar tudo que é velho dentro de mim e não encontro - não guardei nada da vida. os beijos foram esquecidos. os abraços perdidos. as pessoas foram morrendo dentro de mim. e a saliva presa ao céu da boca rodando de um lado para o outro e eu sem encontrar um lugar digno para poder cuspir esta azia que me vem de dento de uma moela seca - e o verbo era é agora o começo de uma história - era uma vez um abril - era uma vez um dia com uma nuvem tão louca que sugou toda a água do mundo. e todos os peixes se fizeram pássaros. e todas as flores se fizeram sonhos. e tudo que era mundo era afinal um pontinho num espaço que nenhum mês do ano sabia que existia - era uma vez eu e mais tu e mais os teus amigos e os meus amigos e os teus vizinhos e os meus e o teu mundo e o meu mundo e tudo é mundo e nós somos mundo e em cada pedaço de mundo. um mundo mais completo - nunca esquecerei mais nenhum segundo do mundo - escrevo cada sorriso. escrevo cada momento. escrevo mundo



* comentário a um texto da vânia lopez que. carinhosamente. faz o favor de ser minha amiga preenchendo os silêncios da escrita com palavras de incentivo ao meu louco amadorismo de tentar escrever
 
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sampaiorego
 
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Enviado por Tópico
Felipe Mendonça
Publicado: 13/07/2012 20:12  Atualizado: 13/07/2012 20:12
Usuário desde: 01/12/2011
Localidade: Rio de Janeiro
Mensagens: 541
 Re: mnemosine
Sampaio, este texto arrebatou-me. É mais ou menos isso a tarefa de um escritor ou poeta: escrever o mundo, toda sua beleza e complexidade, reinventá-lo através da linguagem. Se me permitir, gostaria de postar este texto num blog de poesia com o qual contribuo. O endereço é

http://po-de-poesia.blogspot.com

Grande abraço.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/07/2012 22:34  Atualizado: 13/07/2012 22:34
 Re: mnemosine
Um eloquente texto aonde não há recordações do passado, nem mágoas:

"- não guardei nada da vida. os beijos foram esquecidos. os abraços perdidos. as pessoas foram morrendo dentro de mim."

...há momentos assim na vida das pessoas e não é preciso "ser-se" velho nem novo...

Abraços
Luzia




Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 14/07/2012 01:06  Atualizado: 14/07/2012 01:06
Membro de honra
Usuário desde: 25/01/2009
Localidade: Pouso Alegre - MG
Mensagens: 18598
 Re: mnemosine
Me calo com o título...
Voce escreve mundo, desafia a gravidade
do peito, cada palavra é uma morte doce.
Encontro minha memória em tua poesia, todo o resto
fica no meio.
Uma alma que generosamente é amiga, privilégio meu.
e assim vou criando coragem de não parar de escrever...
Um beijo e obrigada por tanto.