retalhos – número de série 12072012s(r)ego03

a vida é realmente enorme para a viver num só corpo – quando escrevo posso ser o desconhecido. o homem sem bilhete de identidade – é na escrita que dou existência aos meus eus – sem escrita seria apenas um homem. aquele que trabalha. que dá bom dia aos vizinhos. que vai à bola. ao café. ao cinema – só a escrita me deixa ser louco e ao mesmo tempo verdadeiro – bom fim-de-semana felipe

é verdade luzia. esta é uma daquela frases / pensamento que não tem fim para o leitor – que tal pedir ajuda à obra da literatura – as mil e uma noites – e alterar para: as mil e uma interpretações – esta “entrée” é apenas para criar um clima de boa disposição. afinal é domingo e deus disse: ao sétimo dia descansarás – o que eu quis expressar com essa frase é que com a passagem da vida fui destapando. descobrindo a existência de várias personalidades dentro do meu corpo – pensava conhecer melhor este corpo mas enganei-me. afinal só o conhecia um pouco melhor por fora – a escrita permitiu-me dar forma às personalidades. dar alma. ocupar espaço nos silêncios com que me construí no tempo – escrever é agora uma ferramenta para dizer que hoje. aqui. neste momento em que teclo estas palavras está um ser diferente daquele que amanhã tem que partir para um mundo que cada vez gosto menos – para aclarar este sentir que tento escrever. e que por insuficiência do criador não consigo alcançar. o melhor seja mesmo dizer-te que escrever é ser pai todos os dias – depois chegam as surpresas. vemos o movimento desordenado. depois o gatinhar ritmado entre os pés e as mãos. ouvimos o som das primeiras palavras. e quando percebemos que tudo isto é nosso. num repente. todo o corpo está de pé como nunca imaginamos ser possível estar – e a linha do horizonte cada vez mais longe – afinal a surpresa existe. o amadurecimento está feito voz e finalmente o som é palavra escrita – por isso digo que o mundo é demasiado comprido para ser vivido só por um homem. dentro de mim há outros homens prontos a dar voz a um (vários) ego que desconhecia esta felicidade feita de palavras impressas em papel – isto porque nunca soube falar com a boca – um bom domingo para ti – funchal é uma cidade maravilhosa