Sentada, no sofá, tento ler...
O livro é de Fernando Pessoa, que eu adoro! Mas não me consigo concentrar...
Um turbilhão de pensamentos amontoa-se, como que a pedir o previlégio de ser o primeiro.
Desfolho o livro com algum desinteresse, e uma frase chama a minha atenção, a certa altura da sua narrativa, o autor diz: " Não acredito em Deus, porque nunca o vi..."!
Fiquei a pensar no assunto... e logo penso numa outra frase, esta provavelmente, muito mais conhecida, que é de Tomé, (Um dos supostos apóstolos de Jesus): " Ver para crer"!
É no minimo insólita e controversa, esta frase de Tomé...
Fiquei confusa, e resolvi sair... sem rumo, pelas ruas da cidade!
Evitei as mais movimentadas, ( não fosse encontrar alguém conhecido, e desperdiçar a minha tarde de domingo, com conversas fúteis...).
Enveredei, por ruelas, onde normalmente nunca passo, e quando dei por mim, estava parada em frente a uma igreja, (a porta estava aberta, caso raro nos dias de hoje...)
Olhei para a fachada, e para todos os pormenores arquitectónicos, havia três anjos de cada lado da ombreira, que dá a ilusão que são eles que a mantêm de pé. Estão sorrindo, como se toda aquela pedra, pesasse tanto como uma nuvem.
Senti-me tentada a entrar no templo, ( tenho de confessar que não sou muito dada a religiões, sejam elas de que natureza forem...), e entrei.
Os meus passos ecoavam pela nave principal, como que a anunciar a minha chegada, e só parei em frente ao altar!
É lindo, todo construido em talha dourada, e estava decorado com flores frescas, o cheiro das rosas, ainda pairava no ar... e no meio lá está Ela...
A imagem de uma mãe, segurando seu filho ao colo, tentando protegê-lo de tudo e de todos, ( não é o que fazemos todas??).
Concentrei-me no olhar da Mãe, e pareceu-me triste e frio... Imaginei que o artista, não estivesse muito feliz, no dia que resolveu dar cor e sentimento aquela face de pedra.
Virei-me, na direcção do seu olhar, e afinal, ela olhava, para seu filho já adulto, morto, crucificado...
Sentei-me, pensando que nem Ela tinha conseguido evitar tamanha tragédia! E por isso a dor marcava seu rosto lindo, abençoado pelo artista que lhe deu sentimentos.
Dei por mim a rezar...( Aquelas orações que toda agente conhece, mas dizem desconhecer, vá-se lá saber porquê!)...
Eu confesso!
Rezei!
Não pedi nada, como já disse, não acredito que as preces sejam atendidas... ( Ela nem conseguiu, salvar o seu próprio filho...)
Mas rezei!
E não consegui conter as lágrimas, deixei que rolassem, até secarem as emoções!
O sino da torre tocou... e trouxe-me de volta à realidade.
Não sei quanto tempo passou, e também não tinha a menor importância, ninguém me esperava!
Lá fora a noite caía sobre a cidade, e a passos lentos, encaminho-me para casa, sinto uma estranha sensação de paz, de alivio...
Mas o som das novas tecnologias, diz-me que alguém quer falar comigo, olho o numero no visor, e está privado...
Resolvi não atender...
Hoje não!
Hoje não vou ligar a TV, e ver uma sucessão de programas disparatados, sem assunto e sem nexo!
Hoje ninguém me vai roubar, este sentimento de paz que estou sentindo...
Desligo o telemóvel, e entro em casa!
Hoje, não!!!...
Ariane
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