A noite se principia parte por parte
Deixando um rastro raso de sol
Lembrando um pouco o arrebol
Alaranjando uma tarde que arde.
Os pássaros, que já não fazem alarde
Além do horizonte num monte mongol,
Dormitam sem sustenido, oitava ou bemol
Suspensos entre suspiros do Deus da arte.
Acendem-se as galáxias em raias e vias...
Do outro lado do mundo canta a cotovia
Em harmonia bonita buscando um rouxinol
Sussurrando segredos embaixo do lençol,
Altar sacrossanto, berço da boa poesia.
No quarto algo perfumado excita e conforta
Quando os olhos um paraíso na Terra descortina
As amêndoas dos olhos que são, dos olhos, a menina
Quando as mãos níveas e macias cerram a porta...
Morre o dia e de alguma forma nasce o mal
Deixando à mostra uma garra afiada e cruel
Mas o que vem depois é néctar, é manjar, é mel
Basta apenas cruzar a fronteira além do portal...
Despertos estão todos os desejos e algo mais
Em chamas os corpos salgados em etéreo fogo
Incandescendo as estrelas e os campos florais
Num delicioso jogo que aumenta pouco a pouco...
E os pássaros que agora já fazem alarde
A Aurora alaranjando o todo por toda parte
A cotovia em harmonia bonita com o rouxinol
Sussurrando segredos embaixo do lençol...
Gyl Ferrys