Novamente prumo a proa do meu barco em direção ao desconhecido, ventos frios dilatam a vela já enfraquecida dos meus rumos perdidos. Pedaços destroçados de vidas passam como fantasmas, ainda procurando vestígio de sua pobre vida. Hoje ensaio novamente o navegar entre mares e oceanos me contemplando com as diversidades de sonhos e pensamentos. E nesse vento, vento frio que me chega, me preservo quase sem vida, me agasalho e tento sobreviver desse novo mar. Afinal venho de uma época distante, aonde os homens não se prendiam em lares e suas famílias eram portos e eu protegido entre eles. Tive muitos filhos, netos e irmãos, jamais conheci meu pai. Minha mãe era órfã, nunca teve teto quente, nem comida posta ou boas roupas, tudo era rodeado de incertezas e injustiças dos homens. Eles como sempre eram bárbaros, com suas lanças afiadas a impor a autoridade que achavam correto, não estou lamentando a minha vida, apenas colocando em um prato aquilo que eu sou e o que represento. Um homem com fúria, com fome, com marcas profundas, com o ódio em um porão de lamentações e com vontade de se mostrar, grande, poderoso, audacioso e domador da fera que existe dentro de cada porta que invento e tranco quando se é possível.