Eu vi as pessoas da minha geração perdidas, embriagadas, loucas, aidéticas, venderem a bunda e a alma ao marxismo e ao capital;
Vi meus inimigos morrendo de fome e de sede em meio à jantares luxuosos, em meio à alguma biblioteca na França,
Senti peitos lindos e corpos suados tocando a minha pele,
Vivi vidas inteiras pela metade, flutuei de dentro de naves espaciais e vi alguns milagres sendo operados pelos livros da literatura mundial.
Já estive perdido à noite, tive porre de vinho, tive porre de tanto ler, e provei o medo do demônio;
Morri de fome e frio no centro da cidade, já envenenei minha vida, envenenei vidas alheias, xinguei Deus e o Diabo,
Li e decorei versículos bíblicos, pequei contra o Espírito Santo, enguli versos de Rimbaud, devorei Hesse, Dickinson, Daniel, Vyasa, O Caibalion, Astrologia;
Já conheci o Céu & o Inferno, fumei Derby e dancei na chuva, nunca dancei na chuva fumando Marlboro, já vi livros arderem na fogueira da Laica Inquisição;
Já fui paquerado por homossexuais, fui apaixonado por Jesus, chutei o saco de alguém, corri de bandido e escapei d'um assalto;
Já tive vontade de me matar várias vezes, já perdi vários dias da minha vida pensando em viver, amei de verdade e fui traído, bem como traí meus amigos,
Menti sem culpa na consciência, perdi a memória, desafiei a ciência e a metafísica, inventei idiomas e pecados;
Já fui feliz além do que imaginava possível, acreditei veementemente na humanidade, tive fé no futuro, descrença no meu passado;
Já conheci um astro do rock, ganhei um autógrafo de um rock star, aprendi o alfabeto grego, escrevi poesias em estado de transe.
Nunca cheirei cocaína, mas sou drogado, dopado, alucinado pela vida; não sei donde surge tanta energia em mim, não tenho controle,
Tenho medo das pessoas que pensam que a vida é e sempre será igual ao que é hoje;
Não consigo entender a maldade, já tentei me convencer de que não tenho medo do escuro, aprendi que amar é mais importante que os dogmas;
Aprendi que as pessoas preferem os dogmas, entendi que ninguém sabe o que é religião, que ninguém lê poesia com os mesmos olhos, sequer é possível ler poesia.
Sou completamente louco por Fernando Pessoa, tento imitar seu jeito de escrever, adoro não conseguir, adoro ser eu mesmo e toda a minha dor e solidão.
Acredito na paz e em Platão, tenho profunda reverência por São Tomás de Aquino e Virginia Woolf; amo Drummond, odeio decorar coisas conscientemente.
Gosto da sinceridade e entendo Oscar Wilde & São Boaventura, odeio pessoas iguais a mim, odeio pessoas diferentes de mim, não sei porque odeio ou amo alguém, sou descrente quanto a isso;
Não entendo o porquê de todos nós gostarmos de se matar lentamente ao longo dos dias e anos, não entendo o porquê de transformarmos crianças em monstros,
Não consigo conceber o porquê de conseguirmos e podermos fazer isso; o ser humano é livre pra errar, quão maravilhoso e diabólico somos?
Por que fujo dos meus sonhos e tenho medo de me declarar quando amo? Por que tudo que sonhamos não é cumprido nem pela metade?
Por que a minha vida é maravilhosa e mesmo assim invejo os outros que são mais infelizes?
Quanto desespero ainda cabe no meu peito, será que alguém entende quando falo desse tipo de coisa?
Aceito o infinito, aceito as aleatoriedades, aceito meu tipo sanguíneo, e desconfio das pessoas que não olham o céu na madrugada;
Quero alguém que compreenda minha insanidade e converse comigo em pensamento, gosto de pessoas que olham nos olhos e gostam da minha insanidade, pessoas que olham pra mim com os olhos brilhando;
Acredito doentiamente na poesia e em tudo que ela nos faz viver, mesmo que caquética rota vadia e suja como teus olhos língua e caralho.
Adoro palavrões & cus & jardins do Éden no mesmo verso,
Fujo das imagens quando abro meu coração, sou eu mesmo quanto mais fujo do que é belo, e gostaria de saber por que as Musas nos deram tão pouco, por que esse "tão pouco" já nos deixa demente?
Quanto ainda vou ter que sangrar até morrer de orgasmo na minha própria loucura e liberdade ferida? Por que estou preso neste patético destino grego com ares de tragédia shakespeariana?
Saúdo a você, Mestre do Absurdo, Bukowski do Olimpo, pobre poeta rico, Verlaine vazio puro vácuo & ouro do Templo de Salomão, Mallarmé silencioso, maravilhoso deus desconhecido, apóstolo Paulo da demência, ritmo e palavras de nossa dança da morte sempre à espreita;
Traga o teu último gole e saia do meu quarto, deixe-me sozinho com tuas palavras e teu pathos, fujamos de mãos dadas, toque meus versos por um segundo com toda a tua displicência dionisíaca,
Abra meus olhos para essa Noite que surge quando abro minhas janelas e encontro teu horizonte escuro para meus olhos ainda acostumados à luz clara do sol morto pálido desse mundo que dorme, Allen