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da cor a cereja que deixaste,
pelas alvas paredes do quarto
abriu-se a janela a mar,
e nestas divisões desertas que o meu corpo encerra,
fulgiu, tremelicando, a estrela da manhã.
Cauto seja o vento que entra repentino,
trazendo os corais e as madreperolas que sobraram
um dia,
como cada ilusão, como cada sonho
que a insónia escondeu.
Resiste o gorjear da cotovia,
que ouço ao longe,
resiste o mar que sei ao alcançe da mão,
a cor a cereja que deixaste,
ainda hoje me sorri pela noite
quando a tempestade abana os pilares.
Das manhãs, levarei os pássaros que entram no crepúsculo pela janela aberta a mar;
das manhãs, levarei as núvens onde eles adormecem que deixastes espalhadas por todos os cantos meus;
[resistir-me-ei à noite].
experimental, palavras rabiscadas numa Moleskine com prazo de validade.
"Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias."
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
fulgir - (latim fulgeo, -ere, brilhar, reluzir)
v. intr.
Brilhar durante um breve instante.
cauto - (latim cautus, -a, -um)
adj.
Que tem cautela ou prudência.
…
[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]