Outras são as vidas!
Viajei pelas estrelas meio perdida no tempo, fui matéria, fui segredo, fui desejada, fui criada e nascida pelos desejos ocultos do meu eu.
Aqui estou eu, nesta minha estrada, contando uma pequena parte de uma historia, olhei para o passado ele me mostrou-me uma estrada empoeirada, cheia de cascalhos, cheia de defeitos e escolhas erradas que eu sempre fiz.
Vi-me em um ser numa grande aflição e quando ainda nem sabia se o que é ser um crente em alguma fé, que eu poderia aprender pelo meu terrível caminho. Eu era apenas o pó na estrada da minha vida.
Vi terras distantes, vidas ausentes, vidas cheias de dor, vidas vazias, vidas profanas, vidas e apenas vidas, não sei por que ainda teimo neste caminho, sei que tenho que caminhar neste meu limbo, neste meu destino.
Não chorei em vão, não cai por acaso, nem mesmo vivi por viver, tudo foi programado, tive presentes como o maravilhoso amor. Foi a vida gratificante que eu me dignei aqui a viver.
Entre os desertos de minha vida, entre a minha solidão, eu deixei que os sonhos me levassem como leves penas suaves, como correntes de amor, alguns eu os realizei, outros estão sendo realizados, mas tem alguns sonhos difíceis por demais...
Neste caminho eu me vejo em vidas e vidas, refazendo-me, remendando-me, tornando-me outro ser, um ser mais completo, repleto de amor. E neste amor eu me refresco, eu caminho ciente que o amanhã é outro dia, onde o mundo estará mais repleto de muita paz e compreensão.
Existiram vidas onde a dita guerra era uma constante, onde apenas o meu legado era a espada e o cavalo, apenas trajava uma veste de um guerreiro, que sempre defendia o meu Rei e o meu Senhor.
Lembro-me que andei por mares, antes nunca conhecidos por mim, lutei por terras que nada representavam para mim, apenas para o meu Rei, se era justo, eu não sei, apenas sei que por ele eu sofri os horrores dos horrores.
Foi escravo, escarnado, abusado, passei fome, fui marcado como gado, foi vendido, fui chicoteado e fui apenas um pedaço de carne para meu amo e real dono. A terra era a única amiga minha, ela era parte de mim.
Morri, entrei num umbral, por lá eu andei perdido por eternos desafios, não tive quem se lembrasse de mim, nem filhos, nem mulher, eu era um nada, minha alma vagueava lá pela fazenda do meu Patrão um grande coronel, que tomou a minha amada em seus braços e me vendeu para outras terras...
Entre meu desengano escutei o meu nome na terra, era um terrível terreiro, gente de formação estranha, dançavam o meu som do batuque, lembrava a minha infância, coisas da minha terra... O fumo do cigarro de palha entrava a minha alma, a pinga cheirava até as entranhas, chamavam por mim, dançando loucamente, outros espíritos errantes estavam por ali, rindo-se, deliciando nos prazeres do mundo estranho ali mostrando a mim.
Não quero mais esta vida para mim, chorei ajoelhei-me na mais profunda escuridão e chorei lágrimas de sangue, onde a dor apenas era um alivio dos meus erros, do meu rancor. Senti algo passar dentro do meu coração uma luz, um afago, uma doce lembrança.
Era a minha mãe, mulher negra e bela, embalando numa doce canção, com ela, o meu ser recordou toda a minha selva e os meus amigos animais, não tinha nenhum mais feroz que os coronéis que encontrei na minha vida e eu.
Foi ali que voltei os meus olhos para o meu Criador, afinal tinha que me encontrar e sair daquela profunda escuridão que abafava toda a minha alma. Arrependimento e repudio dos meus mais profanos sentimentos, causaram o vomito da minha alma aprisionada ao limbo da imprudência
A luz se fez em mim, todos os meus pensamentos foram de amor, doseando o tão falado perdão, era difícil eu perdoar-me, pior perdoar todos os meus erros, os meus inimigos e renascer em uma nova identidade de amor.
Escutei os cânticos dos anjos, visualizei outros mundos maravilhosos, afinal eu os conhecia, mas como eu pude me esquecer deles? Como eu fui capaz de regredir, como foi capaz de conhecer os caminhos da infelicidade? Não sei, apenas importa é o recomeço e eu vou recomeçar novos caminhos de esperança e amor.
Chegou a hora! Terei que nascer novamente, que o Deus do meu coração esteja sempre presente comigo.
Betimartins
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