Poemas : 

[ … e quando cortas o verso a meio

 
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e quando cortas o verso a meio, as partículas
que o vento arrasta, partilham-se por entre as núvens

no ocaso silencioso,
insites nos barcos a arder na baía,
insistes nas vozes que assombram as sombras,
insistes nos sonhos que eu não vislumbro, que não os meus

quão exaltados pelas síncopes do olhar.

Tudo e nada, como se o desejo prevalecesse,
assustam-me as coisas que sinto [que insistem].

Quando colas o verso pelo meio escaqueiro-me ao tormento,

recolocas as palavras que se reordenam sem pensar,
sem espantos, sem espantalhos,

e nesse contentamento teu que se me apega,
perpetua-se o esquecimento, que cá já não me pode alterar.

E insistes nos barcos, nas vozes e nos sonhos,
que não os meus.

Perdoa-me,
se me perco pela rota das açucenas em flor,
ou que me esqueça de ti por este instante apenas

[que seja].


"Floriram por engano as rosas bravas
No inverno:veio o vento desfolha las..."
(Camilo Pessanha)

http://ricardopocinho.blogspot.com/
ricardopocinho@hotmail.com





experimental, palavras rabiscadas numa Moleskine com prazo de validade.

“que cá me pôde alterar” - Camões “Babel e Sião”

“E aquele poder tão duro
Dos afeitos com que venho,
Que encendem alma e engenho,
Que já me entraram o muro
Do livre alvídrio que tenho;
Estes, que tão furiosos
Gritando vêm escalar-me,
Maus espíritos danosos,
Que querem como forçosos
Do alicerce derrubar-me”
(Camões “Babel e Sião”)

pleroma
Pleroma segundo Carl Jung “é ao mesmo tempo o tudo e o nada”. É infrutífero pensar sobre o Pleroma.


[“do ciclo, as palavras não têm prazo de validade. “ Riva la filotea. La riva? Sa cal'è c'la riva?” (Está a chegar. A chegar? O que estará a chegar?)]
 
Autor
Transversal
 
Texto
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Enviado por Tópico
belarose
Publicado: 18/06/2012 03:46  Atualizado: 18/06/2012 03:46
Membro de honra
Usuário desde: 28/10/2010
Localidade:
Mensagens: 9026
 Re: [ … e quando cortas o verso a meio
Boa noite Transversal!

linda poesia amigo destaco:

Perdoa-me,
se me perco pela rota das açucenas em flor,
ou que me esqueça de ti por este instante apenas


beijos


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/06/2012 10:26  Atualizado: 18/06/2012 10:26
 Re: [ … e quando cortas o verso a meio
E como nos assustam , por vezes, os desejos que insistem em tentar prevalecer...lindíssima poesia,obrigado por trazê-la a nós.Grande abraço


Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 18/06/2012 10:29  Atualizado: 18/06/2012 10:29
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: [ … e quando cortas o verso a meio
Lindíssimo!
É tudo o que me ocorre dizer...


Enviado por Tópico
Felipe Mendonça
Publicado: 18/06/2012 10:35  Atualizado: 18/06/2012 10:35
Usuário desde: 01/12/2011
Localidade: Rio de Janeiro
Mensagens: 541
 Re: [ … e quando cortas o verso a meio
Lindo poema, Ricardo. Emocionou-me como tudo o que escreves. Grande abraço, poeta.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/06/2012 10:52  Atualizado: 18/06/2012 10:52
 Re: [ … e quando cortas o verso a meio
Um versejar, maravilhoso, belo


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/06/2012 20:48  Atualizado: 18/06/2012 20:48
 Re: [ … e quando cortas o verso a meio
Caro Transversal, a sua poesia é um deleite para os sentidos! Adoro!

Parabéns por mais este!

Abraço poético

Felisbela


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/06/2012 00:59  Atualizado: 19/06/2012 00:59
 Re: [ … e quando cortas o verso a meio
e quando cortas o verso a meio, as partículas
que o vento arrasta, partilham-se por entre as núvens

*a poeira arde meus olhos
as letras escavam os céus do norte
e minha poesia chora ao sul...


no ocaso silencioso,
insites nos barcos a arder na baía,
insistes nas vozes que assombram as sombras,
insistes nos sonhos que eu não vislumbro, que não os meus

quão exaltados pelas síncopes do olhar.

*o que se tem, se guarda
no afeto silencioso da insistência
como o princípio do mar turquesa
que na superfície encrespa-se
e nos abocanha na profundeza...


Tudo e nada, como se o desejo prevalecesse,
assustam-me as coisas que sinto [que insistem].

*a insistência dorida é vã
pois talha a vontade e os aromas
e ensurdece o sagrado
o que vai no peito- pleroma-


Quando colas o verso pelo meio escaqueiro-me ao tormento,

recolocas as palavras que se reordenam sem pensar,
sem espantos, sem espantalhos,

e nesse contentamento teu que se me apega,
perpetua-se o esquecimento, que cá já não me pode alterar.

*os cacos ainda persistem
em meio ondas de esquecimento
as palavras ficam dependuradas nas vagas do querer-se
na dualidade do sentimento...


E insistes nos barcos, nas vozes e nos sonhos,
que não os meus.

*- pois a memória amorosa é ninho de aconchego-

Perdoa-me,
se me perco pela rota das açucenas em flor,
ou que me esqueça de ti por este instante apenas

*das açucenas em flor
são as rotas do sorriso
do sorriso de amor...


[que seja].

*[ou não]
-um instante sem teu mar, um infinito segundo de morte-
e dói-me.
Ka*


Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 23/06/2012 02:09  Atualizado: 23/06/2012 02:09
Membro de honra
Usuário desde: 25/01/2009
Localidade: Pouso Alegre - MG
Mensagens: 18598
 Re: [ … e quando cortas o verso a meio
Um poema para embriagar a voz que
se perdeu ao eco, porque ao chegar
parece partir em uma só dor... Estupendo!
beijo e obrigada