O Conjunto Desconjuntado
Quando a gente pensa na nossa moradia, imaginamos tudo de bom para ela, uma boa localização, um lugar sossegado e o mais importante de tudo, seguro e que possamos desfrutar o máximo de paz.
Isso tudo também foi o que Edgar sempre sonhou ao sair do interior da Bahia, procurou muito, muito... conseguindo realizar o seu desejo de um apartamento próprio e num lugar bom e bem localizado.
Logo no início, quando trouxe a sua mudança, chegou todo empolgado, cumprimentando porteiros, vigias, faxineiros e até os animais se pudesse; achava lindo os grupos de pombos que se aninhavam nos fios; os gatos, todos bem cuidados; até os cachorrinhos de raça; ficou muito empolgado com o amor que as pessoas tinham para com a natureza.
Quando desarrumou a mudança, colocando tudo em seu devido lugar, percebeu que o vizinho de baixo, um capitão da policia aposentado, estava tentando fazer um puxadinho, - aquele “armengue” que os espertos que moram no térreo invadem e colocam um jardim particular, uma suíte, quarto e tudo que possa vir à cabeça – notando que iria sair prejudicado, pois a tal obra iria tomar toda parte inferior do seu quarto.
Nosso amigo foi comentar com ele, o tal do policial arvorou-se e vociferou para todo prédio ouvir: - Mal você chegou e já está procurando confusão!
O assustado rapaz comunicou que ia procurar a justiça para ver se isso é correto, o dito cujo gritou mais ainda: - Eu te enfrento em qualquer lugar! Não venha, não!
Isso foi uma verdadeira ducha da água fria, quanto ao seu sonho de “lar doce lar”.
A sua vizinha de corredor, Sandra, era uma antiga conhecida, da época de faculdade, foi um grande conforto para o nosso personagem, a amizade era tanta que ele também conhecia o eterno noivo da garota, Fuxiko.
Dez anos de noivado e o apartamento da vizinha era o sonho realizado desse velho casal, consolidando mais a união deles, contudo o noivo da vizinha gostava mesmo era de uma fofoca, não podia ver Edgar passar que saía com um rosário de perguntas; para onde ia; que horas voltava e quando o encontrava nos jardins do conjunto era o maior inquérito.
Os vizinhos de cima, eram pessoas que não pagavam condomínio, tinham o apartamento como herança do avô, uma verdadeira herança maldita para todos que tinham o desprazer de dividir o condomínio com esse pessoal, porque as parcelas mensais de manutenção do prédio eram desprezadas, como se não bastasse isso, eles tinham uma filhinha e um cão vira-lata, os dois passavam o dia inteirinho pulando, o cachorro chorava a noite todinha e ainda de manhã cedo a menininha acordava para sair pulando pelo apartamento, quem morava embaixo pesava que tivesse um sapo gigante, pois o barulho ecoava no andar debaixo;
Depois de alguns meses de sofrimento, veio ainda o pior parte, uma goteira intermitente teimava pingar do banheiro de cima, apesar de inúmeras promessas de recuperação do seu ambiente de banho, eles enganavam e iam empurrando o problema durante anos, as coisas iam piorando, até que Edgar resolveu procurar a justiça. Após muitas idas e vindas, pelo menos esse problema foi sanado, onde o nosso personagem ganhara mais um tempinho de paz.
Contudo a pirraça continuava, eles jogavam no telhado do puxadinho do capitão tudo que era lixo, até carne podre com “morotó” se desfaziam dessa forma; as fezes do animal e cotonetes era todo dia que aparecia no telhado, quem se prejudicava mesmo era justamente o nosso amigo, que mandava o militar limpar e o dito cujo dizia que quem tinha que limpar era quem jogou e nesse jogo de empurra o síndico sempre era solicitado para mandar limpar o local, ou melhor a invasão militar.
A paz no conjunto desconjuntado era difícil, pois onde os moradores não respeitam o direito dos outros, você sabe como é...
As áreas de jardins até eram boas, mas como lá eles acham que o que é comum não é de ninguém, teve gente que resolveu tomar uma parte da praça para fazer um bar, o dono prometera fazer inúmeras atividades, mas a maior atividade mesmo era a do seu bolso, era um tal de entrar dinheiro... Tudo o homem cobrava, era uma maravilha para a sua conta bancária.
As dependências e corredores, alguns moradores tomam conta, durante à noite principalmente; eles desfilavam com os simpáticos animaizinhos que saiam defecando por todos os cantos, os vizinhos quando iam reclamar, decretavam uma verdadeira sentença para a inimizade, entrando na lista negra dos desconjuntados.
Os gatinhos de tão bem alimentados, resolveram procriar, procriar... Era gato para tudo quanto é canto, comida e água não faltavam, para eles, os pombos e os mosquitos da dengue, que eram o que mais gostavam da água limpinha, tanto que o surto de dengue foi certo, só faltava saber quem não teve essa terrível doença.
Como o condomínio era antigo, ele foi projetado para ter um número reduzido de carros, e como hoje quase todo mundo de classe média tem carro, a celeuma começava desde cedo, de noite as pessoas tinham medo de sair para não perder a “vaguinha”; no final de semana, os namorados, amantes e afins quem vinham fazer visita, colocando o carro no minúsculo estacionamento, era caminho para mais confusão! Carros eram impedidos de sair de manhã cedo ou em caso de uma necessidade a pessoa ficava sem retirar o seu veículo, se quisesse sair com o carro tinha que ir catar o dono na cama, se soubesse onde mora.
E aí você pergunta: - E os vigilantes não fazem nada?
Quando eles se arvoram a impedir a entrada de quem não morava no ambiente, o “pau comia”, porque quem não tinha veículo achava-se no direito de ter vaga e quem tiinha veículo não conseguia a vaga ao chegar, colocando assim o carro em qualquer canto, resultando em arranhões e até colisões, mas ninguém achava o culpado.
Como o culpado nessa hora some, a devida culpa era transferida para os vigilantes, que sequer saiam da guarita para acompanhar os carros.
Nesse lugar ninguém se entendia mesmo, até um simples ato de acompanhar as crianças no parquinho infantil era uma confusão, os moradores de fora invadiam o local, colocavam seus rebentos lá e não queriam tirá-los, os porteiros fingiam não ver, toda essa calamitosa situação.
Se você pensa que os adolescentes estavam fora desse mundo de problemas está muito enganado, os meninos se sentiam donos da situação ou da bagunça, faziam o que queriam e se algum morador ainda resolvesse reclamar, no outro dia o carro dele aparecia riscado, na melhor das hipóteses, fora que se os responsáveis dele resolvessem tomar as dores e cortar relações, criando mais um inimigo desconjuntado.
Muitos perguntam ao nosso herói porque ele não sai de lá, mas ninguém está organizando as finanças de ninguém para saber o que se passa no bolso de cada um, pois o rapaz comprou o seu primeiro apartamento com muito custo e ainda vai passar trinta anos de muito aborrecimento e sufoco para vencer esses enormes desafios.
Marcelo de Oliveira Souza
O Conjunto Desconjuntado
Quando a gente pensa na nossa moradia, imaginamos tudo de bom para ela, uma boa localização, um lugar sossegado e o mais importante de tudo, seguro e que possamos desfrutar o máximo de paz.
Isso tudo também foi o que Edgar sempre sonhou ao sair do interior da Bahia, procurou muito, muito... conseguindo realizar o seu desejo de um apartamento próprio e num lugar bom e bem localizado.
Logo no início, quando trouxe a sua mudança, chegou todo empolgado, cumprimentando porteiros, vigias, faxineiros e até os animais se pudesse; achava lindo os grupos de pombos que se aninhavam nos fios; os gatos, todos bem cuidados; até os cachorrinhos de raça; ficou muito empolgado com o amor que as pessoas tinham para com a natureza.
Quando desarrumou a mudança, colocando tudo em seu devido lugar, percebeu que o vizinho de baixo, um capitão da policia aposentado, estava tentando fazer um puxadinho, - aquele “armengue” que os espertos que moram no térreo invadem e colocam um jardim particular, uma suíte, quarto e tudo que possa vir à cabeça – notando que iria sair prejudicado, pois a tal obra iria tomar toda parte inferior do seu quarto.
Nosso amigo foi comentar com ele, o tal do policial arvorou-se e vociferou para todo prédio ouvir: - Mal você chegou e já está procurando confusão!
O assustado rapaz comunicou que ia procurar a justiça para ver se isso é correto, o dito cujo gritou mais ainda: - Eu te enfrento em qualquer lugar! Não venha, não!
Isso foi uma verdadeira ducha da água fria, quanto ao seu sonho de “lar doce lar”.
A sua vizinha de corredor, Sandra, era uma antiga conhecida, da época de faculdade, foi um grande conforto para o nosso personagem, a amizade era tanta que ele também conhecia o eterno noivo da garota, Fuxiko.
Dez anos de noivado e o apartamento da vizinha era o sonho realizado desse velho casal, consolidando mais a união deles, contudo o noivo da vizinha gostava mesmo era de uma fofoca, não podia ver Edgar passar que saía com um rosário de perguntas; para onde ia; que horas voltava e quando o encontrava nos jardins do conjunto era o maior inquérito.
Os vizinhos de cima, eram pessoas que não pagavam condomínio, tinham o apartamento como herança do avô, uma verdadeira herança maldita para todos que tinham o desprazer de dividir o condomínio com esse pessoal, porque as parcelas mensais de manutenção do prédio eram desprezadas, como se não bastasse isso, eles tinham uma filhinha e um cão vira-lata, os dois passavam o dia inteirinho pulando, o cachorro chorava a noite todinha e ainda de manhã cedo a menininha acordava para sair pulando pelo apartamento, quem morava embaixo pesava que tivesse um sapo gigante, pois o barulho ecoava no andar debaixo;
Depois de alguns meses de sofrimento, veio ainda o pior parte, uma goteira intermitente teimava pingar do banheiro de cima, apesar de inúmeras promessas de recuperação do seu ambiente de banho, eles enganavam e iam empurrando o problema durante anos, as coisas iam piorando, até que Edgar resolveu procurar a justiça. Após muitas idas e vindas, pelo menos esse problema foi sanado, onde o nosso personagem ganhara mais um tempinho de paz.
Contudo a pirraça continuava, eles jogavam no telhado do puxadinho do capitão tudo que era lixo, até carne podre com “morotó” se desfaziam dessa forma; as fezes do animal e cotonetes era todo dia que aparecia no telhado, quem se prejudicava mesmo era justamente o nosso amigo, que mandava o militar limpar e o dito cujo dizia que quem tinha que limpar era quem jogou e nesse jogo de empurra o síndico sempre era solicitado para mandar limpar o local, ou melhor a invasão militar.
A paz no conjunto desconjuntado era difícil, pois onde os moradores não respeitam o direito dos outros, você sabe como é...
As áreas de jardins até eram boas, mas como lá eles acham que o que é comum não é de ninguém, teve gente que resolveu tomar uma parte da praça para fazer um bar, o dono prometera fazer inúmeras atividades, mas a maior atividade mesmo era a do seu bolso, era um tal de entrar dinheiro... Tudo o homem cobrava, era uma maravilha para a sua conta bancária.
As dependências e corredores, alguns moradores tomam conta, durante à noite principalmente; eles desfilavam com os simpáticos animaizinhos que saiam defecando por todos os cantos, os vizinhos quando iam reclamar, decretavam uma verdadeira sentença para a inimizade, entrando na lista negra dos desconjuntados.
Os gatinhos de tão bem alimentados, resolveram procriar, procriar... Era gato para tudo quanto é canto, comida e água não faltavam, para eles, os pombos e os mosquitos da dengue, que eram o que mais gostavam da água limpinha, tanto que o surto de dengue foi certo, só faltava saber quem não teve essa terrível doença.
Como o condomínio era antigo, ele foi projetado para ter um número reduzido de carros, e como hoje quase todo mundo de classe média tem carro, a celeuma começava desde cedo, de noite as pessoas tinham medo de sair para não perder a “vaguinha”; no final de semana, os namorados, amantes e afins quem vinham fazer visita, colocando o carro no minúsculo estacionamento, era caminho para mais confusão! Carros eram impedidos de sair de manhã cedo ou em caso de uma necessidade a pessoa ficava sem retirar o seu veículo, se quisesse sair com o carro tinha que ir catar o dono na cama, se soubesse onde mora.
E aí você pergunta: - E os vigilantes não fazem nada?
Quando eles se arvoram a impedir a entrada de quem não morava no ambiente, o “pau comia”, porque quem não tinha veículo achava-se no direito de ter vaga e quem tiinha veículo não conseguia a vaga ao chegar, colocando assim o carro em qualquer canto, resultando em arranhões e até colisões, mas ninguém achava o culpado.
Como o culpado nessa hora some, a devida culpa era transferida para os vigilantes, que sequer saiam da guarita para acompanhar os carros.
Nesse lugar ninguém se entendia mesmo, até um simples ato de acompanhar as crianças no parquinho infantil era uma confusão, os moradores de fora invadiam o local, colocavam seus rebentos lá e não queriam tirá-los, os porteiros fingiam não ver, toda essa calamitosa situação.
Se você pensa que os adolescentes estavam fora desse mundo de problemas está muito enganado, os meninos se sentiam donos da situação ou da bagunça, faziam o que queriam e se algum morador ainda resolvesse reclamar, no outro dia o carro dele aparecia riscado, na melhor das hipóteses, fora que se os responsáveis dele resolvessem tomar as dores e cortar relações, criando mais um inimigo desconjuntado.
Muitos perguntam ao nosso herói porque ele não sai de lá, mas ninguém está organizando as finanças de ninguém para saber o que se passa no bolso de cada um, pois o rapaz comprou o seu primeiro apartamento com muito custo e ainda vai passar trinta anos de muito aborrecimento e sufoco para vencer esses enormes desafios.
Marcelo de Oliveira Souza