Inutilmente a manhã na fronte
a manhã repousada nos gentis gomos, nos cílios fluviais de trilhos brandos
se, na Lezíria ao largo, ardem queimadas Outonais,
se a terra ressequida aguarda a cama láctea das cinzas,
das colheitas póstumas, residuais.
É fim de tarde, o nevoeiro cai agora espessado. Pardacento, vagaroso, sobre a palha incendiada antes da safra.
O vento amainado como por magia, afaga desposado a terra quente na biologia comprometida dos solos rubros de porções inimagináveis.
Instáveis, a vegetação e a biodeversidade, gemem no gérmen ainda cálido p’la nostalgia.
Tomba a lágrima. Rebola no espelho das águas, galopa o vazio no dorso do dia, alazão chicoteado por sombras insondáveis.
Ao lado o rio, o rio que se azula, que se estiraça, que gesticula efémero em dádiva e busca. Rebusca a chegada dos deuses, o romper anunciado do manto glaciar.
[Seremos deuses, amado, dum tempo que tarda em se encontrar.]
Inutilmente a manhã na fronte
conquanto, na acidez do pranto, afluentes, lençóis freáticos e demais espaços compósitos, se confundem e baralham na assimetria de todos e quaisquer propósitos
de ser verdade
de ser saudade ou apenas e tão só, palidez de lua, esquálida performance de imaginária realidade.
Inutilmente
o gesto a escorrer-se deslumbramento p’las paredes das entranhas na qualidade comprometida da água na nascente da vida.
Inutilmente,
a flauta de Pã, o filamento túrgido em busca de ser manhã, se o fogo chacina todos os verdes das sebes e dos prados, e se o flato revivido desfolha o tempo manso que se ajardina numa cartografia estranha.
Na fragilidade dos agros ecossistemas poluídos pelos óxidos nítricos, os sentidos despertam feridos da dormência de um sino lento.
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