Estava sentado na varanda e como sempre faço por menor que seja o tempo, procuro não propriamente relaxar, pois daria a idéia que estaria tenso, mas não, é um momento que procuro me sintonizar com a natureza.
Para mim esta experiência é de poucos anos, pois sempre vivi na cidade e nem me passava pela idéia passar 03 dias que fosse em uma chácara, ou no campo ou no silêncio da natureza; não suportava.
Conheci muitos paulistas que sentem uma saudade louca daquele barulho, daquele transito caótico e estão sempre a dizer que não vêem a hora de voltar e eu os entendo.
É muito difícil para quem foi criado numa cidade assim a se acostumar numa pequena, a não ser um ou outro “bicho-grilo”, que são a exceção e não a regra.
Um pequeno empresário de São Paulo, que tenha tido um supermercado de bairro, quando vem para Curitiba tem uma desilusão e por conseguinte uma decepção comercial, pois é outra escala de faturamento e nem sempre se habituam a este novo ritmo; eles possuem o “bichinho” da cidade grande.
É um viciado como outro qualquer que fica fissurado quando tem uma quantidade menor da droga.
Não foi nem um nem dois casos que conheci. O desalento deles, na maioria é muito grande.
E isto é em qualquer centro urbano, pois saindo de Curitiba e indo para Joinvile você vai sentir a mesma coisa; o fascínio está em ir para um centro maior nunca para um menor a não ser que seja uma nova fronteira que esteja sendo aberta com todas as oportunidades escancaradas.
Eu nunca quis sair de Curitiba para nenhum lugar em especial, mas sempre senti não ter nenhum dom artístico que pudesse levar a minha profissão para qualquer lugar onde eu fosse sem ter de começar tudo de novo.
Isto eu gostaria, mas ai já em outra conotação, pois sempre quiz conhecer o desconhecido além do horizonte.
Mas em todo o caso sempre tive uma ou outra chacrinha pequena nos arredores da cidade, mas sempre as mantive alugadas, nunca as usava pessoalmente até que... de tanto ir para pousadas na Estrada da Graciosa, num pequeno lugarejo a 40 km de Curitiba, acabei comprando uma residência para fins comerciais, pois aquilo ali era um “fervo” aos sábados e domingos durante o dia, mas depois das seis horas um silêncio total.
E nesta casa fui fazendo a salutar transferência para uma vida mais tranqüila; de dia o barulho de um balneário, de noite as estrelas, meu cachorro, o rio que passa nos fundos da casa e a minha esposa.
E assim foi barulho-silêncio-barulho até que fui contaminado pelo silêncio dos barulhos da noite e hoje moro na minha chacrinha e não volto mais para a cidade nem que a vaca tussa.
E estando neste meu momento de sintonia com a natureza fiquei observando meus viralatas no luscofusco do entardecer e pressenti que os animais existem para nos engrandecer, nós espíritos conscientes, os reis da matéria que perderam o seu tempo de desenvolvimento e estamos indo para um descalabro sem fim.
Assistir, como a pouco tempo, um rei de um país chamado de primeiro mundo se divertindo matando elefantes não dá muita esperança para a nossa raça.
Não há Rio+20 que dê solução, o ser humano está comprometido até a medula com a desumanidade e a insensibilidade.
Vendo o animalzinho, mistura de Chow chow com poodle, que me adotou deste pequenininho e não larga do meu pé, acomodado na grama com um belo osso como se fosse a novela das oito eu me divirto, enquanto as duas cadelinhas ficam por ali.
Estamos na transição do dia para a noite e fica claro na natureza esta indefinição.
E lembro-me do livro “A Grande Pirâmide Revela Seu Segredo” de Roselis Von Sass (www.graal.org.br) em que na história narrada há leões que também adotavam donos e passavam a acompanhá-los.
E eu tenho certeza de ter havido este tempo, pois o animal deveria ser uma das grandes alegrias para o homem, a sua finalidade era engrandecer e alegrar o habitat deste ser que deveria reinar sobre toda a natureza com nobreza e dignidade senhoril, mas que transformou o seu habitat, que lhe foi presenteado para o seu desenvolvimento, em um grande lixão e covil de maldades e tristezas.
Graça – desgraça
O homem que foi tão agraciado com tudo hoje só deve dar pavor aos seres da natureza que eram tão conhecidos dos povos antigos e que são os auxiliares na vinha do Senhor.