Aos poucos as dores vão ficando perdidas
No deserto que criei no esquecimento…
Não me lembro da cor dos olhos, nem do sorriso,
Nem do tom de voz… Nada!
Apenas recordo os passos perdidos nas longas noites insones
Quando procurava por mim e não me encontrava
Vítima de tanta mentira, tanto desprezo, tanto vazio!
Olho para o passado e vejo apenas uma sombra
Projectada na parede de uma dor insolúvel
A tentar na distância atormentar a minha alma…
Cada vez está mais distante, mais nublada…
Até o nome se vai perdendo num naco de nada
Onde apenas o desinteresse por tudo o que amei
Redunda o fracasso do que consegui.
Sim, eu amei.
Amei com quanta força o meu coração explodiu
Em cada palavra, em cada olhar, em cada querer…
Amei demais, dei demais, tudo demais
Até em mim restar um frio vazio onde eu
Já descria do próprio amor e da capacidade para amar de novo.
Sim, eu amei.
Entreguei-me de corpo e alma a quem apenas me usou
Como quem despe roupa velha e joga no lixo.
Sim, eu amei.
Entristece-me olhar para o passado
E ver nele apenas um monte de lágrimas caídas
Perante a indiferença de quem me devia ter amado
E apenas fingia… Apenas mentia…
Não vejo mais para além das paredes da solidão
Que uma sombra… Apenas a sombra de quem um dia amei
Por quem durante tanto tempo chorei
Até que, cansado, chorei por mim.
Chorei por nada ter…
Tive de partir para não morrer na desilusão
De ter acreditado um dia que fui amado
Por quem só me fez sofrer.
ANTÓNIOCASADO
Re: O PASSADO
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