Avó, porque tens hoje
um corpo tão diferente do teu?!
Tão lento, tão pesado, tão triste ...
Um olhar assim vazio, tão amargo,
tão perdido ...
Umas mãos tão frias, tão sem força,
tão paradas, tão caídas ...
É assim que permaneces, calada, estática,
"ferida", "trémula" a meio-tempo ...
Entre ti e a Vida já não há nada, apenas Eu,
a quem Amas como o Vento ... que dura mudança
a tua Idade nos trouxe!
Sinto-te um fantasma insepulto
com medo de partir,
sem vontade de ficar.
E em que espelho ou retrato
ficou teu rosto perdido,
teu olhar encontrado,
teu passado vivido?!
Hoje, já não possuis teu corpo,
é teu corpo quem te possui!
Ricardo Louro
O tempo passa, as coisas passam, os outros também... só a Vida em nós não tem como passar porque afinal a Vida é Eterna. A Vida da Alma nunca acaba! O Tempo é contra a matéria mas pretende ser a favor da Consciência. Quanto mais ciclos do tempo nós vivermos mais velhos e debilitados ficamos fisicamente mas mais conscientes, livres psíquica e emocionalmente podemos ficar se soubermos viver as experiências que a vida nos traz de forma a fluir e a transformarmo-nos com elas. Aceitar a Vida, as coisas e os outros como eles são! Eis o segredo! A Avó permanece ...
À Avó Clarisse
Ricardo Maria Louro