Poemas : 

Filosofia de merceeiro

 

Open in new window

Ao fim do dia,
antes de fechar a loja,
o merceeiro debruça-se
sobre os caixotes de madeira
colhendo a fruta tocada,
separando-a da fruta boa,
para que esta
não seja contaminada
pela sua baba peçonhenta.

Ao contrário de Deus
que, nos caixotes do mundo,
teima
em misturar as almas tocadas
com as almas purificadas
para que estas se redimam
de suas impurezas
e possam de novo ser penduradas
na árvore da vida,
o merceeiro sabe
que o mesmo nunca acontecerá
com a fruta
que, uma vez contaminada,
jamais voltará a ser sã.

Por essa razão, todas as manhãs,
quando volta a estender
os caixotes sobre o passeio,
apenas a fruta boa
é exposta
ao olhar cioso da clientela,
que nada quer saber
da improvável redenção
da fruta estragada.


 
Autor
Runa
Autor
 
Texto
Data
Leituras
1171
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 31/05/2012 00:19  Atualizado: 31/05/2012 00:19
 Re: Filosofia de merceeiro
olá Rui, há muito que não te via por cá. o bom filho... eheh

adorei ler esta história. mas a improvável redenção da fruta estragada... talvez um pouco mais de optimismo... na terra nada se perde. é o ciclo da vida. o solo precisa dessa fruta podre que vai emprestar nutrientes ao solo. digo eu!

um abraço

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 31/05/2012 00:38  Atualizado: 31/05/2012 00:38
 Re: Filosofia de merceeiro
*Amigo Runa, de fato, a sabedoria divina trata a redenção com outro olhar.
Gostei desse poema narrando a rotina do merceeiro e a toda a gama de leituras que a alma pode realizar.
Até uma das leituras, nosso amigo Poeta Alberto fez...
Gostei.
Tua presença no site com tuas criações trouxe-me outra dinâmica e incentivo para mim.
Obrigado por estares aqui.
Um abraço imenso
Karinna*