Vidas em perigo no fogo inimigo – Lizaldo Vieira
É o fogo inimigo
Lambendo
Derretendo a terra
O morro
A planicie
Moitas nas serras
Grito na floresta
Eitos
E mais eitos
Em chamas
O beija-flor
Um tamanduá bandeira
Denunciam
Reclamam
Clamam
Um tiziu denuncia
Aos pulos
Trancos e barrancos
Revoltado
Sentinela de beira de estrada
Revoltado por tanto crime ecológico
Aos gritos conclama
Help
Help
Uma solução
De salvação
Tem fogo na mata
No topo
Nas ciliares
Na relva
Fúria de ventos quente
Circunda malhadas
Quintais
Muralharas da china
Por ali
Ninguém cisma
Em denunciar
A vida assada
Cozinhada
Em brasa viva
E feroz língua de fogo
Queimando
Assando
Expulsando tudo
Por léguas tiranas
Onde a vista alcança
Muito bicho morto
Tem ninho queimado
Goto
Preá
Jiboia
Saracura
Macaco prego
Morcego
Tamanduá
Doidos
Sem pra onde ir
E vir
Na grota do angico
Na mata do cipó
Nas nascentes do Curralinho
No nicho do guigó
Uma cobra silva
Rebolando
Tonta com tanta fumaça
O bem-te-vi apavorado
Diz que viu
Tudo partir da li
Do aceiro mal preparado
Da queimada do canavial
La das bandas do piranji
Diante de tanta produção insustentável
Parece não se contentar
Para as repetidas denuncias
Das vidas em fogo
Uma válvula de escape se acha
Um monumento de vida
O ícone guigó da Mata atlântica
Seres e vidas da mata que matam
Devoram
Atacam
Devastam
Mal tratam
Por bem prazer e deleite
Do império da cana
No consumismo de espécie humana
Contexto macabro
Que esse modelo superado de desenvolvimento
Encarna
Quando ignora nichos de bichos e florestas
Irmanados
Em festa biodiversa
Q U E S E D A N E C U S T O d e V I D A - Lizaldo Vieira
Meu deus
Tá danado
É todo santo dia
O mesmo recado
La vem o noticiário
Com a
estória das bolsas
Do que sobe e desce no mercado
De Tóquio
Nasdaq
São paulo
É dólar que aume...