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arlequim dourado

 
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não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


uma dor enorme a pagar para quem procura o conforto na verdade dos factos – felicidade – procurar a satisfação terrena é dor. luta. agonia. vómito. insónia. medo. mau estar generalizado pelo corpo. ressaca. aperto. e os dias sempre a seguir atrás uns dos outros e a dor nunca é habituação. e não sara a mente. nem as mãos que querem escrever sossego – este sossego nunca será escrito em palavras. não tenho arte suficiente para o fazer – e tudo dói. e como dói. e aonde dói. e dói em tanto de mim que já sou só este desassossego de doer – dói. dói como quando usámos sapatos novos. e na face o sorriso. e o andar torto. e o lábio a contrair. e dentro da cabeça uma vontade enorme de arrancar o corpo de dentro daquele aperto. que ao princípio era aflição e agora é desespero – e quem olha somente vê o brilho do sapato. firme nas formas. novo. e o cheiro a couro entranhado nos pés. os atacadores enlaçados com arte. esticados para este e oeste. e o corpo no norte a olhar o sul e tudo feito como se de um embrulho de oferta se tratasse – presente envenenado. não há vida sem liberdade. não há vida para os oprimidos. não há vida na dor. não há vida nos corpos castrados do livre arbítrio – quero morrer em paz – mas tudo por dentro é como é. como sempre foi. e se um dia rio outro choro. se um dia faço nascer a esperança. outro logo a enforco com a laçada de uma corda que não pára de pensar – e nunca tenho razão. e toda a razão necessita de um homem bobo. e clarice a dizer: “o bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.”. e os pés inchados. as unhas encravadas. as bolhas nos calcanhares e cada passo maior que um quilómetro e a dor a crescer até à boca. torta e depois os olhos. semifechados. e a face a enrodilhar em sofrimento e o desânimo ali e aqui e tudo o que era perto é agora impossível de alcançar – tempo – necessitamos de tempo para cambar os sapatos. e a vida sempre a doer – demora uma vida. e toda a vida é sacrifício. e o meu sapato não camba. e o corpo de hoje igual ao de ontem – o sujeito sou eu – neste corpo. o sujeito não necessita do complemento directo – o verbo é determinante. forte o suficiente para que só as mãos saibam falar. como se em cada dedo houvesse um boca com alma e tudo o resto amarrado a um corpo dentro de um sapato
 
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sampaiorego
 
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Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 27/05/2012 21:54  Atualizado: 27/05/2012 21:54
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Localidade: Pouso Alegre - MG
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 Re: arlequim dourado
Dois ursos e uma só comida na caverna...
Teus textos não querem andar, querem voar.
Ainda morro com suas metáforas. bjs


Enviado por Tópico
ROMMA
Publicado: 27/05/2012 22:50  Atualizado: 27/05/2012 22:50
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 Re: arlequim dourado
atitudes terrenas contraem dividas ou saldam-nas; é preciso sofrer a ter coisas;
o forjado tem validade precoce; se há ressaca há mau caminho.

Gostei da boca com alma e os dedos com boca :) e do resto dentro dum sapato.

na verdade não somos mais que isso: um monte de farrapos que nos cobre a alma, na partida nem os farrapos nos servem para vesti-la.
Romma