A televisão ligada impede-me de desfrutar um momento de paz, continuo a dividir a casa com os pais empurrado por esta crise que repete-se cada vez pior em todos momentos.
Vejo a barba que não fiz no espelho, pelos brancos já surgem e um sentimento de falha cresce-me.
Mas... onde é que ficaram os sonhos que nem sei se tive, não os perdi apenas, estou também a perder a memória de os ter, e sim, faço erros, de todos estilos e formas mas, infelizmente meu corrector avariou na ultima vez que um vírus qualquer me apanhou.
Balelas, conversas soltas, frases sem sentido de quem se chama Trilho e não sabe para onde continuar.
A solidão cresce acompanhada com a companhia que não me faz companhia, eu, único culpado das minhas dores rezo a um Deus que prefiro acreditar por ser mais fácil viver a acreditar.
As vezes apetecia-me que a morte viesse-me bater a porta e que não existisse nada após, meu cansaço teria finalmente descanso e não precisaria olhar-me mais ao espelho envelhecido pelo tempo que é mais rápido que eu.
Hoje, agora, não valho nada, sequer a energia que gasto com esta máquina ligada, mas depois destas letras húmidas que saem-me dos olhos sinta a alma que nem sei se tenho lavada e assim surge-me a energia necessária para acreditar novamente que existe conserto para mim.
Daqui nada meus pés já estão descansados, levanto-me do mesmo sítio que cai e remendo-me nos mesmos locais que sempre rasgo a pele, respiro fundo e sigo o caminho acreditando que há algo que ainda possa fazer para que a minha vida não passe de um desperdício de tempo.