Nota do autor:
Este pequeno livro de fácil e rápida leitura foi escrito alguns anos atrás e serviu entre outras coisas para me libertar.
Dedico-o, é claro, a todos que me conhecem e gostam de mim.
Abril. 1995
EXALTAÇÃO
Ó forças ocultas do mundo!
Vós, poderosos seres do infinito!
Vós, que traçais os destinos!
Olhai-me! A mim! Vede-me!
Ficai sabendo que contesto essa vossa prepotência,
Em atribuir a este mundo, não destinos mas sentenças!
Vim perdido e tentei me encontrar.
Continuo perdido sem me encontrar, sem me conhecer...
Oh! Raiva que me esgana, ódio que ferro!
Ah! Porquê? Para quê? Quando?
Viver, viver...
Idealismo utópico!
Nascer, pensar, lutar e morrer...
Dói-me o cérebro de pensar, a consciência de lutar;
Quanto à morte, mistérios? Pouco me assombra.
Não sou poeta nem quero ser.
Nem romântico nem modernista nem sequer futurista.
Nem arte eu quero fazer.
Ah! Selva do salve-se quem puder!
É a isto que tu me levas -
À apatia perante um mundo cheio de hipocrisia.
Quanto mais quero menos consigo.
Quanto mais penso mais me revolto,
Contra mim por ser como sou
De não ser como não sou.
Vivo na incerteza e na dúvida
Que o destino me deixou.
Mas o destino não morre, quem morre é o homem.
E quem mata o homem é o destino.
Já se viu tão grande crueldade?
É preciso acabar com o destino!
Abaixo e fora com o destino que amargura a vida!
Abaixo o meu destino!
Só devia haver destino para quem o quisesse...
Para quem o fizesse.
«»
Olhos! Olhos!
Olhos que não vivem.
Olhos que apenas olham.
Odeio-os!
Humanidade imbecil que deveria estar enterrada.
Provoca-me náuseas de raiva o tempo.
Busco no meu íntimo a força que me falta no momento e escrevo.
Procura dolorosa dum olhar vivo.
Olhares venenosos, cínicos, vítimas duma doença a que eu me imunizei,
Porque nunca tive medo de ser quem sou,
Porque a perfeição é objectivo a atingir,
Porque só assim vivo...
Sofro...
«»
Para todo o homem
Que conhecendo o mal,
A mentira, a injustiça e o ódio,
E nesta vida sentir o mais estúpido prazer em viver,
Para ele o meu mais repelente
Vómito de nojo!
«»
Ó artificialismo (como te desprezo)
Que como consequência directa da estupidez humana emergistes,
Para tornares o meu mundo num pote de merda,
Em que desde o mais chorudo porco ao mais escanzelado rato,
Todos erram numa tentativa frustrada de querer lamber a entranha do próximo!
Ó estupidez humana que em ti a tua hipócrita mentalidade te domina.
Ó estupidez humana que decais, que envelheces... Mata-te!
Dá-me consciência da verdade e o mundo não se tornará num pote de sangue.
Recuso o pesadelo social!
Quero consciência humana!
CONSCIÊNCIA
Só consigo ser aquilo que detesto ser.
Só tenho o que nunca desejei e, lentamente,
Vou desejando o que nunca quis,
Vou sendo simplesmente.
Tenho conseguido pelo menos,
Com uma introspecção profunda,
Manter dentro de mim o facto da incerteza do futuro
Me lembrar um pouco de esperança.
Por vezes... Ah!
Por vezes contraem-se-me os músculos!
«»
Sinto em mim um desejo estúpido de não sentir,
Uma vontade enorme de não morrer.
Estonteia-me a mente e enfraqueço - momentos
Que se escondem em volta de mim.
«»
Horas que nunca mais passam.
Ansiedade que me enlaça.
Longe de todos, dentro de tudo.
Este constante querer desde sempre obscurecido.
«»
Falta-me o ar. O pensamento hesita.
O corpo treme. Suo.
A desconexão do mundo reflecte-se no meu corpo,
E a inércia domina-me.
«»
É este caminho sem saída que sempre se me tem deparado.
É neste caminho que penso com raiva,
O porquê de a mim me enfraquecer,
O porquê de a mim me desesperançar,
O porquê dos puzzles a construir que nunca mais acabam,
O porquê deste pensar em evasão impossível,
O porquê desta minha raiva que não me deixa.
Ó humana consciência que finalmente me aprisionaste!
LOUCURA
Gradualmente...
A raiva morre;
(esperança moribunda).
O presente finda;
(esgota-se o alento).
Perco o ideal;
(descubro o descalabro).
Domínio angustiante;
(futuro decidido).
Desespero crescente;
(a solidão nasce).
Gradualmente...
«»
Vejo toda a encosta virada a poente.
Duas barreiras de vidro me separam dela e não a ouço.
Apenas as sinto geladas, intransponíveis.
Em mente passo para o lado de lá e aí as barreiras de vidro já não existem.
Subo a encosta, quero ver o anoitecer com o desaparecer do sol.
Oh! Vontade louca de subir ao cume - corro!
Oh! Nevoeiro denso que não me deixa ver.
Oh! Névoa fria que me adormece o desejo.
Perdi a noção do querer.
A escuridão envolveu-me.
Novamente as duas barreiras de vidro se me deparam.
«»
Noite drogada.
Frio...
Noite esquecida - mais uma.
Raiva!
Aperta-se-me o cerco que me irá destruir.
Perco o medo à morte.
Tenho a consciência dos extremos, conheço-os, possuo-os!
Dentro de mim eles dominam-me e levam-me a desejá-los e a senti-los
Ainda com mais fervor, levam-me a tornar-me eu um extremo,
Um extremo de loucura.
Estou farto de impurezas!
Quem me dera ser uma nascente.
FIM