Narciso envaideceu-se no espelho das águas
E de sua beleza tornei-me bizarro afluente,
Em minha imagem não me desvendei diferente
E numa nódoa de tristeza afoguei minhas mágoas.
Lagos enfermos destituíram a formosura
Que evoquei da colossal sombra de Narciso,
Mas a poluição retrucou que não era preciso
Envaidecer-me de uma beleza que não depura.
Envelheci saturando a tez com cosméticos,
Em minha senilidade vejo-me assaz patético
Diante de uma iniqüidade deveras carcomida...
A beleza do corpo engelha e apodrece,
O belo está no íntimo que o tempo não envelhece
E que é dádiva de beleza para toda a vida!