O saber sempre me fascinou e com seu quê de desconcertante, do intuir ao pensar e sentir, pensar o que se sente e sentir o que se pensa, do formular ao comunicar e do representar ao fundamentar, a filosofia esteve sempre no centro das minhas atenções, como algo de indomável, sobre objectos indomáveis, tais como o pensamento histórico, ou económico, ou religioso. As assolapadas, e não raro pretensiosas, certezas das ciências não me seduziam tanto. O pão pão, queijo queijo, ocultava sempre qualquer coisa que eu ansiava desvelar. No fundo, talvez fosse a minha rebeldia em não me conformar com que as coisas tenham de ser como são. E a filosofia era como um oceano de vastos horizontes que não cessavam de se metamorfosear, ou tomar novas configurações, como um baralho ou uma mente que se desenvolve pela força do pensamento. Pensar sobre objectos presentes e pensar sobre memórias, de objectos, ou de acontecimentos, ou de pensamentos...Em vez de me sentir derrotado pela perspectiva das dificuldades, senti-me animado a progredir passo a passo, como se aprende a andar. E foi de pequenos prazeres de ir entendendo, ou de pensar que entendia, que me fui confirmando nessa curiosidade e nessa paixão (não declarada, insegura, hesitante e temerosa) do discurso filosófico.