Volte sim.
Olha, eu sei o quanto me custou
ter perdido o que a vida sempre me negou.
Depois de tantos choros
e tantos mau-agouros,
eu sei como dói essa cicatriz
pelo mal que te fiz,
Hoje eu sei, moça,
o quanto me pesa ter quebrado essa louça.
Esse eterno e incerto ir
(lembra de Heráclito e do Devir?),
essa casa em silêncio,
a mesa vazia
e a cama sempre fria.
Volte sim. Agora eu sei
o quanto que contigo errei.
E por isso peno como Aasvero
(impresso com chapa de madeira, lembra?)
a sempre andar. Sempre errar.
Porque eu não soube te amar.
Já não vejo nos olhos do meu filho
aquele intenso brilho,
que por você existiu.
É inútil colar os pedaços. Contigo, vida partiu.
De que me adianta ter esse espaço
quando sei que é fruto do meu fracasso?
Para que essa liberdade
se ainda te espero em todo fim de tarde?
E é essa consciência tão dolorosa,
o prato que me serve essa ressaca horrorosa.
Tanta saudade de tanta conversa à toa,
de tanta risada boa,
de tantos verso,
de tanto místico Universo,
de tanta filosofia,
de tanta mitologia,
de tantas leituras
(benzinho, atenção à pergunta. Lembra?)
de tantas ternuras . . .
Lembrança do teu corpo perfeito,
de como amo esse teu jeito.
Dos teus perfumes,
dos meus ciúmes.
Do teu riso branco,
das tuas mãos, do gesto franco
e destes teus olhos semi orientais
(bonitos como cristais)
E tanto mais a te lembrar . . .
Revivo minha agonia
por saber que tão pouco te protegia.
Revivo as noites em claro,
a ânsia pelo verso raro
e pelo poema em que te diria:
preta, eu te amo mais a cada dia.
E ainda há tanto a lembrar . . .
E é nesse parto tenebroso,
que tento renascer.
E é esse novo homem
que quer te dizer:
Volte sim.