O Castrador...
Zé estava caminhando pelas montanhas a procura de um lugar ao sol, todos tinham uma oportunidade e porque não ele mesmo. Cansado mas certo que sua vida miserável estava terminando, a lua estava grandiosa, iluminava até as clareiras, lá longe estava o grande vale, onde ele encontraria as fazendas e certamente o muito gado, sem duvida que arranjaria emprego por lá.
Encontrou uma pequena caverna e por lá se arranjou para mais uma noite ao ar livre, deu água ao seu cavalo, com alguma comida, a fogueira estava pronta e aqueceu a lata de feijões e a pouca carne seca. Pensativo olhando a lua ele pensava sobre o seu futuro e não era nada meigo ele se via como dono de uma grande fazenda.
O dia clareou, arrumou seus pertences e deu sinal ao seu Vitoria, era como chamava seu amigo de longa data, era a única coisa que restou do seu passado, prenda dada pelo seu avô, quando ele fez dezoito anos e depois toda aquela tragédia aconteceu de perder a sua família queimada e ter ficado sem nada.
O sol já estava queimando sua nuca, mas ele sabia que logo encontraria trabalho, já via grandes pastos, milhares de cabeças de bois e tudo muito bem tratado. Atravessou o rio, do outro lado da margem, mulheres faziam algazarra, lavando as roupas e colocando as conversas em dia.
Quando sentiram o barulho do estranho a chegar, ficaram mudas e de rosto contraído, assim não ficava sombra de duvida que eram mulheres serias e honradas. Zé era um jovem novo, onde ele morava era muito cobiçado pelas jovens, mas depois que ele ficou sem nada elas poderia pensar que ele era pobre demais para si.
Pobre Zé montado no seu Vitoria, cal vagava para o seu abismo de vida. Mas cheio de esperança e com braços fortes para trabalhar a coragem é que não lhe faltava pelo caminho. Passando na beira do rio ele educa mente levanta seu chapéu e dando os bons dias as senhoras.
Cavalga ainda mais um km e logo vê uma entrada bem grande para uma fazenda, entra cautelosamente, logo avista um capataz, que o faz parar.
- Bom dia peão, o que faz por aqui?
Zé numa forma educada responde:
- Bem, senhor procurando trabalho, qualquer coisa senhor já caminho há vários dias.
O capataz responde sorrindo, ele gostou do garoto, tinha bons ares e ele era bem educado coisa que ali não era usual e normal.
- Está com sorte eu preciso de gente para trabalhar na fazenda, mas tenho que lhe perguntar? É casado ou tem namorada e tem carta para conduzir?
Zé responde sorrindo:
- Eu sou casado não, nem mesmo tenho namorada, perdi toda a minha família num incêndio de sou sozinho na vida, quanto à carta de condução, sim tenho foi última prenda do meu último aniversario de meu pai.
Satisfeito o capataz monta o seu cavalo e o conduz a casa grande, era uma área linda, muito bem tratada, seus jardins pareciam saídos de uma revista, olhou para onde escutava gargalhadas e viu uma piscina a perder de vista, mulheres lindas e muito glamour a toda a sua volta.
Já na entrada da casa, o capataz fala alegre:
- Eu me esqueci Zé de me apresentar, sou o Serafim, mas todos me conhecem por o castrador.
O rosto do Zé fica rubro, seus olhos estavam assustados com o que lhe era revelado, o capataz estava divertido com o efeito no rosto Zé.
Abre-se uma porta de um escritório e lá dentro estava um senhor simpático, já de meia idade muito agradável.
Eles entram e o senhor estende a sua mão num gentil cumprimento. O capataz fala rapidamente baixinho e depois se despede e vai embora do escritório.
O senhor olha profundamente o Zé, aquele olhar invadia a sua alma, acho que nem perguntando pelas perguntas mais intimas ele se sentira tão incomodado.
Sentiu que o ar estava pesado e o senhor rompeu num amável sorriso e numa única pergunta:
- Bom Zé como veio aqui parar? Apenas quero saber quem o indicou ou o mandou?
Zé olha num gesto de humildade e responde enrolando o seu chapéu numa quase visão que era tão dolorida sobre a sua tragédia.
- Senhor ninguém me mandou, não tenho ninguém na minha vida, era filho de bons pais e irmãos e ainda tinha o meu avô vivo, mas todos morreram juntos num violento incêndio apenas eu escapei, pois não estava em casa. Sem nada, sem dinheiro apenas ajuda de alguns bons amigos e do presente do meu avo sai pelo mundo fora para não ficar louco.
O senhor viu nas suas palavras o sofrimento que enxergou na sua alma, viu um jovem honesto, forte e de muitos bons princípios, levantou-se e colocou sua mão no ombro do Zé, dizendo:
- Meu amigo, já não estará mais sozinho, tem trabalho a partir de hoje, sua função será apenas de conduzir o carro de minha esposa e a levar aos sítios que ela lhe indicar.
O Zé olhava abismado para a confiança do senhor, mas continuando, a conversa:
- Tem três coisas que eu não admito por aqui, que são: Abuso, Traição e Roubo. Estamos entendidos? Amanha vai com o capataz a cidade comprar roupa decente, agora pode ir lá fora já estão a sua espera para indicar o seu quarto.
O Zé ia já saindo, agradecendo gentilmente sem não se esquecer de agradecer quando o senhor o chama, de volta:
_ Meu amigo, esqueci de falar quando precisar de me contar algo, ou falar, ou pedir peça para chamar por mim, Osvaldo.
Zé agradecido acena sua cabeça e diz:
- Obrigado Dr. Osvaldo por tudo.
Já estava uma camareira esperando por ele, uma jovem linda e vestida como nos filmes, avental rendando e bem aprumada. Sorrindo ela acena para ele a seguir.
Logo ela o leva a um lugar cheio de casinhas confortáveis com um quarto, uma mini cozinha e sala e claro uma casa de banho, todas bem decoradas, quando ele viu a rede na sala ficou feliz.
Ela lhe diz que se não quisesse cozinhar ele podia ir a copa comer, quanto às roupas ela indicou um cesto, onde pediu que as colocasse lá que ela mesma iria as recolher e cuidar delas. Depois saiu apressada, pedindo desculpa, mas que ainda tinha muito a fazer na casa.
A primeira coisa foi tomar um bom banho ele estava tão sujo da sua caminhada, fez a sua barba e quando saiu do banheiro parecia um menino de 15 anos. Depois se deitou na rede da sala e adormeceu.
Seus sonhos o levaram a ver os membros de sua família, ele considerava como o melhor premio que podia receber, era conhecedor da espiritualidade, mas fechou um pouco o seu coração até compreender porque lhe foi tirado todos os que ele mais amava. Sentiu alguém empurrando o seu ombro, estremeceu, olhou confuso, por momentos ele não sabia onde estava.
A insistência do capataz o fez cair na real, desculpou-se pelo grande cansaço, pondo-se imediatamente em pé, o capataz perguntou:
- Achas que estarás pronto já a sair?
O Zé responde afirmativamente, mas uma pergunta ficou no ar
- Serafim e vou assim com as minhas humildes roupas?
- Sim vais sim é com a esposa do patrão já te aguarda na sala.
Responde o capataz, resignado ele caminha para ir buscar o carro, arranja seu cabelo e olha-se ao espelho do carro, bem um carro não era bem o nome, mas sim um carrão de luxo e maravilhoso.
Estaciona na porta e logo sai uma elegante senhora jovem demais, ele pensou afinal é a filha do Dr. Osvaldo, sai do carro e gentilmente abre a sua porta, a elegante mulher acena seu rosto em um resplendoroso sorriso agradecer, seu vestido abre completamente quando ela entra no carro, estava vestida para matar, absolutamente fabulosa.
Chegaram à cidade sem problemas, não houve dialogo algum pelo caminho, apenas sua patroa falava muito por celular, era estranho parecia estar a falar com um namorado. Ela lhe dá sinal para que ele feche o carro e acompanhe as lojas, ele o faz em gesto de total obediência.
Ali ela desliga o celular e parece outra pessoa, simpática e muito afável, escolhendo a roupa que ele tem que vestir, ele olhava para tudo aquilo e pensava nem num ano eu consiga apenas comprar uma só peça. Diria que o mundo abria-se pela porta adentro sem ele dar por isso, mais parecia um sonho.
Cansada ela decide ir a uma pastelaria comer algo e beber também, sem dar a mínima ela ordena que ele a acompanhe, ai ela recebe o telefonema de uma amiga e desata a falar sem parar, parecia insatisfeita pela sua vida. Viu que ela era realmente a esposa do Dr. Osvaldo acho que a sua filha parecia ser é mais velha que ela, era um desabafar desmedido, por momentos ele a viu verter umas lágrimas furtivas sentindo pena dela.
O clima parece ter mudado um pouco, a voz da patroa estava suave doce como mel, seus olhos eram de um verde profundo e seus cachos louros juntamente com a sua pele morena fazia tremer as pernas de qualquer um, Ela coloca sua mão na dele num gesto meigo e muito constrangedor, dizendo que se sentia sozinha, que era uma vida de luxo, mas que nunca foi feliz, pois seus pais pagaram a sua divida com o casamento com o Dr. Osvaldo, praticamente ela foi vendida.
O clima estava ficando pesado, ele queria sair dali rapidamente, desculpando-se pediu para ir ao banheiro, lavou a sua cara, suava de tão nervoso que estava logo batia no pensamento o seu chefe, o castrador, ela estava o cantando ali na hora, mas ele tinha que ser forte e homem fiel ao seu novo patrão, ele respirou fundo e encarou a patroa.
Ela já estava com as suas compras e na mão e a conta paga, sorridente como se ela tivesse ganhado uma batalha, entrou no carro, ele arrancou em direção à fazenda, mas ela pediu que ele fizesse um desvio antes, ele seguiu a ordem dela, mas qual foi a sua surpresa que era um motel onde ela queria parar.
Ele gaguejou, falando:
- Aqui senhora?
Ela responde:
- É aqui sim saia do carro e me acompanhe
Decidido e ser fiel e responsável falou-lhe
- Não vou não, se quiser vai a senhora sozinha eu fico aqui.
Ela fervia de zangada e perguntou-lhe:
- Eu não lhe agrado, não sirvo? Qualquer um ajoelharia aos meus pés.
Zé responde:
- Pois eu não me desculpe senhora, mas mesmo que seja a ultima mulher no mundo não a tocaria, pois é esposa do meu patrão e serei fiel ao aperto de mãos que juntos selamos.
Ela entra no carro batendo a porta furiosa, ele arranca em direção a fazenda sem mais uma palavra e sem mais um desvio.
Logo chegam e ele é imediatamente chamado ao escritório pelo mordomo. Estava o Dr. Osvaldo e o Capataz o esperando, sorriram quando ele entrou, falando alegremente:
- Oh, Zé pela primeira vez que não preciso capar o motorista e o despedir, agora sabemos que és um homem integro e honrado, o emprego é teu sem duvida alguma. Os outros foram castrados e claros despedidos para não serem mortos.
O Zé aliviado saiu do escritório, mas já na copa uma empregada, falou rindo; Este aqui teve sorte não faz parte dos mortos, senão era mais um no fundo do rio.
Ele não era tolo e nem burro, mulheres na vida é que não iriam lhe faltar os pais e os avos sempre lhe ensinaram que a palavra de um homem valia mais que um tesouro na vida...
Betimartins
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