Oh, que saudades que eu tenho
Do tempo quando eu era pequeno
Que os anos não voltam jamais!...
Minha casa eivada de animais,
Do meu pai a cavalo, ainda moço;
Da voz materna anunciando o almoço!...
Oh, quantas saudades eu sinto
Dos lagos prateados e dos rios,
Das tardes embaixo da gameleira!...
Dos amigos reunidos numa fogueira
Bebendo vinho e contando mentiras
Enquanto assavam as batatas nas cinzas!...
Depois fui crescendo e fiquei crescido.
O amor chegou em minha vida feito flor
Num dia distante, formoso e cristalino.
Oh, eu era apenas mais um que curtia Raul
E trazia meus cabelos espessos e crescidos
Sem saber português e o porquê do céu azul!...
Lembro dos olhos meigos e estranhos
A me olhar com olhos enjabuticabados
Não sabia distinguir se eram de diabos
Ou simplesmente como se olham os anjos!...
Lembro-me...
Dos dedos dela nos meus entrelaçados,
Do umedecer dos olhos se entreolhando
Num jogo novo, bonito e mágico!...
Do beijo dado num momento fantástico,
Dos corcovos dos corações acelerados
Em pulsações pueris e não esperadas!...
Do vento refrigerante movendo a relva
Trazendo essências odorosas da selva
Eu vendo o balouçar das rosas e dos lírios!
O corpo amado nu, salgado e em delírio
Pedindo com a voz rouca mais e mais e mais;
A esgrima das línguas em orgias orientais!...
Os sussurros e gemidos se confundindo
Com o murmurar das fontes cristalinas
O olhar, sexualmente falando, de felina!...
E o vento a balouçar os lírios e margaridas
Fazendo alvoroço nos corpos na relva deitados
Refrigerando e tornando o momento sagrado.
Oh, que saudades que eu tenho
Do tempo quando eu era pequeno
Que os anos não voltam jamais!
Gyl Ferrys