Poemas : 

Sobre a minha morte e outras maravilhas

 
Não sei onde começam e terminam os meus sonhos;
não sei porque tudo tem que ser tão difícil,
e seguir o caminho certo não é certo para quem vive incerto
como um bêbado sobre o meio fio.

Dias há em que amo Deus, a natureza e todas as criaturas;
outros em que detesto o que há de mais puro no mundo
e quero apenas me perder em meio a vícios e sensações que me entorpecem.

Por que tem que ser assim? Por que me abandonaste?
Onde está Jó para me explicar o significado de cada uma de suas chagas?
Onde está o céu azul quando dele sinto falta, saudades?

Desespero-me em silêncio: como o Universo;
mas em nenhuma galáxia encontro o silêncio que procuro.
Transformo minha vida em tragicomédia
e não sei onde começa a tragédia,
onde termina a comédia.

Dias há em que o infinito torna-se a minha única esperança;
é quando lembro-me de Pandora
e não sei se rio lágrimas ou choro sorrisos.

Sou angústia por todos os meus poros;
peco e santifico-me em potência e ato.
onde está a razão em meio a tantos incêndios, deslizamentos e inquisições?
Procuro dentro de mim a chave:
encontro apenas segredos e baús cheios de tesouros sem utilidade.
Todos são para mim o que há de mais importante,
para os outros carecem de valor,
para mim não necessitam de explicação.
O que sou eu além destes sonhos que visto até no fixar dos meus olhos
nos de qualquer um que comigo divisa na rua?

Sou um escafandrista de mim,
um mergulhador dos meus mares:
tenho em mim as marés mais sujas,
os fins de tarde mais belos,
toda a poesia duma noite de céu estrelado na praia,
toda a violência e dor das ondas que quebram e gritam na arrebentação.

Sou como um santo ardendo na fogueira de seus próprios pecados;
anjo rebelde sem rebeldia mas culpado e condenado no tribunal do Nada;
tenho medo de como Hermann Hesse me compreende,
e o quanto me espelho e vejo em toda a literatura.

Do vazio formo mitologias,
brinco de astronauta da minha própria Teogonia,
misturo cristianismo com o meu ateísmo,
todos os deuses com a verdade única,
e transformo-ne no que nunca deixei de ser:
céu sem começo nem fim
como um livro de poesias lido em sonhos
e que faz todo sentido como essa dor que não sinto
mas que faz de mim escravo
da minha própria liberdade e astrologia.

 
Autor
ferlumbras
 
Texto
Data
Leituras
964
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.