Passamos a correr, não vimos ninguém
Há aves a voar, cães a rosnar, gatos a miar
Sinais luminosos, sirenes a tocar, gente a chorar
Mundo perdido, mundo desconhecido.
Uma criança a chorar, estende a mão
Ninguém a vê, um velho deitado no chão
Cama de papelão, garrafa vazia, um pão
Gritos de silêncio nas cidades barulhentas.
Som de acordeão nas ruas da ilusão
Cigana a pedir, romeno a fugir, ilusão
Bebé deitado no chão, morte no alcatrão
Surdos que ouvem, cegos que vêem.
Pessoas desconfiadas, mal-humoradas
Loucos, intelectuais, marginais, sinais
Prostitutas, calçada manchada de sangue
Policia a correr, homem triste a beber.
Cidade sem paixão, sem coração
Mortos vivos na selva da ilusão
Deambulando nas ruas da cidade
Velhos, ainda choram de saudade.
(Gaspar Oliveira)
Gaspar oliveira