Há uma rua que passa à minha porta
sombreada num gesto vago e palmilhada vezes sem conta.
Eis que entardece.
Como os jovens galhos se esticam na ânsia de tocar!
As folhas, agitam-se tolas e as sombras
mostram bons ninhos onde pernoitar.
Seduzem-se umas às outras
com histórias quentes de belos locais diferentes…
E como vibram, sibilantes, entontecem!
É a chegada das andorinhas que a Natureza agradece!
Nas fendas ocultas,
uivam cigarras raivosas.
Reclamam o seu lugar na criação.
Loucas pela sede, rangem as asas,
na espera da chuva que tarda em chegar.
Há uma nuvem no céu.
Logo outra e outra ainda,
açoitadas a vento irado,
tornam o que era um dia belo
num repentino tornado.
Abatem-se gotas na calçada.
Nas casas, engole-se a sopa com lágrimas.
Os velhos, cruzam os dedos e repetem os credos.
Há um rio que passa na minha rua e que corre para o mar.
Incipit...