O santo da primavera é hoje um desmazelado.
Passeia-se na lama, sob um guarda-chuva de nuvens escuras. Não apanha sol, nem gosta de água, anda sempre atrasado, e se reclamam, o máximo que consegue é resmungar perdigotos. Tem alergia a flores, seca os vinhedos e nunca sai á rua sem um perfume a terra sacudida dos cemitérios. Raspa-se nas árvores para arrancar os pelos do inverno, e atira bolas de neve de havaianas nos pés. Assoa-se á mesa das bruxas do tempo e blasfema no solstício e no equinócio. Para não se enganar veste uma camisa grossa sob um casaco fino cheio de nódoas e ri-se de nós o ano todo. Quando pensamos que o tempo está nos eixos e vem milagre festejamos na rua. Então ele manda os pássaros sobrevoar as nossas cabeças enquanto desatam os intestinos. Moral da história: mais vale um santo de merda com tempo que um santo com um tempo de merda.
sugestão de Alberto Moreira Ferreira
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