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não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu
e eu aqui penso. aqui onde o certo e o incerto nascem. onde a dúvida e a certeza gozam dos mesmos privilégios e deveres: o corpo insatisfeito – os antigos acreditavam que tudo vinha do coração. eu. sempre racional a esta hora da noite. sei que o vómito vem do cérebro – por isso esta dor de cabeça que me come o corpo por inteiro – não compreendo porque não sou capaz de ignorar esta dor que não deveria ser dor. ser hábito – talvez defeito de ser humano – mas nem todos os seres humanos são humanos – os humanos que conheço têm uma veia que vai do coração à cabeça. a dor. mergulhada em sangue. desagua no cérebro em forma de delta. ramificações distorcidas pela força da corrente – nos seus extremos os detritos lutam por um lugar seguro na razão – empírico – o coração com o passar do tempo já não filtra todas as impurezas. cansado? não. defeito. sempre foi assim – o coração dói. não há médico que o cure. nem viagem que o distraia. dói porque dói. dói porque bate. dói porque é dentro daquele músculo que vivo. vivo em dor e em dor idílica escrevo – romântico? estou certo que sim. é no coração que deito os olhos – interrogo-me se conheço a raça humana. a reposta é que conheço alguns humanos. gosto deles porque a dor lhes dói onde me dói a minha dor – belo – por último coloco a interrogação em mim e pergunto-me: conheces-te? não. não conheço. porque não conheço todos os humanos. principalmente os humanos-pedra – se me conhecesse. se me conhecesse mesmo bem. seria outro humano. diferente deste que se magoa com dores que não são de magoar. dor-pedra – as pedras não têm dor