O seu presente,
cuidadosamente embrulhado,
estava guardado no banco traseiro.
Meus braços abraçavam
o volante do carro
como seu fosse seu corpo
a ser abraçado,
como se cingissem seus braços
trazendo seus seios
junto ao meu peito.
Meu pé direito
pisava fundo no acelerador,
na ânsia enorme
de poder logo chegar,
de poder abraçar você,
sentir seu perfume,
ouvir sua voz.
A luz que vinha
em sentido contrário,
por um momento,
pareceu o intenso brilho
dos seus olhos castanhos
e até mesmo o ruído
das ferragens se retorcendo
e dos vidros se quebrando
parecia música em meus ouvidos.
E a morte me levou
em seus braços
e para ela foi aquele abraço
quer eu trazia só para você.
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."