Poemas : 

Degeneração

 
Não me diga para resistir quando estou perdendo a consciência
Venha me massacrar por todos os meus pecados
Acabar com o que resta de meus membros exaustos
Retirar meus pensamentos de morte e concupiscência

Meu coração quer dilacerar o corpo
Despontar de dentro dessa carne que enfraquece
Não suporta o odor de um quase morto
Ser que estertora e apodrece

Em uma quase vida
Minha estrutura emagrece
Os meus líquidos secam
Em uma quase ida

Minha carcaça abriga
Vermes que se apoderam
Monstros que dilaceram
Procurando comida

Testemunho o festim com meus olhos alucinados
Uma gargalhada desfigurada foge de minha garganta
Escuto os gritos do meu espírito assustado
Aflito por estar cravado mais fundo que minhas entranhas

Urros de alegria dentro dos meus órgãos
Brutos parasitas satisfeitos a bailar
A festança mais funérea de toda a minha vida
A gargalhada se distorce, eu começo a bradar

Meu protesto de remorso é apenas indução
Para as crias, criaturas frias que nasceram por minhas mãos
Remover mais de meu todo, meu corpo fica oco
Meu dorso se arqueia com dor maior e aflição

Convidei-os a carcomer, abocanhar e devorar
Mas a minha condição incitou o meu querer
A vontade de sentir algo bom me debelar
Mas por que não dizer a vontade de viver?

Em minha rendição já não posso optar
O que me resta é muito pouco: implorar e esperar
Que os famélicos seres não suprimam o interior
Ou ao menos deixem restos para eu me recompor.



 
Autor
Venore
Autor
 
Texto
Data
Leituras
976
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.