Não me diga para resistir quando estou perdendo a consciência
Venha me massacrar por todos os meus pecados
Acabar com o que resta de meus membros exaustos
Retirar meus pensamentos de morte e concupiscência
Meu coração quer dilacerar o corpo
Despontar de dentro dessa carne que enfraquece
Não suporta o odor de um quase morto
Ser que estertora e apodrece
Em uma quase vida
Minha estrutura emagrece
Os meus líquidos secam
Em uma quase ida
Minha carcaça abriga
Vermes que se apoderam
Monstros que dilaceram
Procurando comida
Testemunho o festim com meus olhos alucinados
Uma gargalhada desfigurada foge de minha garganta
Escuto os gritos do meu espírito assustado
Aflito por estar cravado mais fundo que minhas entranhas
Urros de alegria dentro dos meus órgãos
Brutos parasitas satisfeitos a bailar
A festança mais funérea de toda a minha vida
A gargalhada se distorce, eu começo a bradar
Meu protesto de remorso é apenas indução
Para as crias, criaturas frias que nasceram por minhas mãos
Remover mais de meu todo, meu corpo fica oco
Meu dorso se arqueia com dor maior e aflição
Convidei-os a carcomer, abocanhar e devorar
Mas a minha condição incitou o meu querer
A vontade de sentir algo bom me debelar
Mas por que não dizer a vontade de viver?
Em minha rendição já não posso optar
O que me resta é muito pouco: implorar e esperar
Que os famélicos seres não suprimam o interior
Ou ao menos deixem restos para eu me recompor.