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Cume (Gabriela Mistral)

 
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É a hora da tarde, essa que põe
seu sangue nas montanhas.

E nesta hora alguém está sofrendo;
uma perde, angustiada,
bem neste entardecer o único peito
contra o qual se estreitava.

Há algum coração em que o poente
Mergulha aquele cume ensangüentado.

O vale já sombreia
e se enche de calma.
Mas, lá do fundo, vê que se incendeia
de rubor a montanha.

A esta hora ponho-me a cantar
minha eterna canção atribulada.

Sou eu que estou batendo
o cume de escarlate?

Ponho em meu coração a mão e o sinto
a verter quando bate.

Gabriela Mistral, poetisa chilena, Premio Nobel de Literatura, tradução de Ruth Sylvia de Miranda Salles.
Imagem do por de sol sobre as geleiras e as montanhas, obtida no parque nacional de Torres del Paine, Patagonia Chilena por Cristiano Burmester.
 
Autor
AjAraujo
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