Poemas -> Reflexão : 

A FOME AFUGENTA O SONO

 
A FOME AFUGENTA O SONO
 

Esse que traz na carne,
da luta pelo pão
as fundas cicatrizes,
não sabe dessas crises
de novo anunciadas
que afetam-lhe, de muito:
as crises inventadas.

Quer mais que essa liberdade
de dormir, de encher a cara,
de ir e vir, sem compromisso,
de cantar uma canção.
Quer mais que esse tosco circo
em que se ri, sem razão.

Mas, nada diz. Não o comove
ver ao alto embandeiradas
as esperanças do povo
em épocas de eleição.

Suporta, pois, em silêncio,
mágoas nunca mitigadas.
E segue. É trabalhador.
Que outra coisa, ele faria?
Ausculta, assim, sua dor
na dor furiosa dos martelos
e foices do dia-a-dia.

Esse que traz na carne,
sem honra, tais cicatrizes,
não sabe falar de crises.
Se soubesse, gritaria.


Sergio de Sersank
Visitem meu blog literário "Estado de Espírito"
http://sersank.blogspot.com



1º de maio - DIA DO TRABALHADOR
 
Autor
Sergio de Sersank
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/05/2012 23:04  Atualizado: 01/05/2012 23:04
 Re: A FOME AFUGENTA O SONO
Excelente teu texto,... obrigado pela leitura.
NIKI


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/05/2012 23:57  Atualizado: 01/05/2012 23:57
 Re: A FOME AFUGENTA O SONO
*Um olhar múltiplo
e cru, contundente
e profundo na
verdadeira face
daquele que é
trabalhador d fato.
Gosto da tua
escrita. Carinho e
admiração.karinna*


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/05/2012 14:52  Atualizado: 02/05/2012 14:52
 Re: A FOME AFUGENTA O SONO
É verdade...

"(...)Se soubesse, gritaria."


Heróis anónimos que fazem com o suor sofrido a roda da vida girar, para que o mundo não descambe vertiginosamente para o completo caos.


É admirável como sensivelmente, com impressões latentes de humanismo a qual na tua observância, expressas que mais do que ver, importa-te e dar merecido valor aos milhares e milhares de trabalhadores, que guardando dentro de si os desencantos, a exaustão, revela na força do braço, na teimosia do olhar e no carácter responsável, vão n'um esforço muitas vezes sobre-humano empurrando a vida com a graça da honestidade de quem tem consciência dos mandamentos divinos:


"E comereis do fruto do teu suor para não sede pesado ao teu irmão"

Considero essa tua obra Amigo Sersank, uma justa tributação aos invisíveis do mundo da era do descartável, mas que sem eles, seria impossível de se ter um passado, presente ou futuro.


"(...) Quer mais que essa liberdade
de dormir, de encher a cara,
de ir e vir, sem compromisso,
de cantar uma canção.
Quer mais que esse tosco circo
em que se ri, sem razão."


Minha sincera congratulação pela tua nobreza de espírito, mais uma vez grata pela partilha e também pela tua gentil atenção em meu perfil, fiquei deveras tocada.

Meu fraterno abraço e tenhas uma quarta-feira de muita luz e paz

Enviado por Tópico
Sergio de Sersank
Publicado: 02/05/2012 16:46  Atualizado: 02/05/2012 16:46
Super Participativo
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 Re: A FOME AFUGENTA O SONO p/ Sofia Rodrigues
Querida Sofia,

De fato, minha intenção foi e continua sendo a de prestar, com o singelo poema em apreço, uma pálida homenagem à figura do trabalhador mais humilde, aquele que na sua condição de miserabilidade se vê praticamente excluído do contexto social. Aquele cidadão que nas estatísticas aparece como número incômodo e gritante, pois que constitui (ainda) verdadeira multidão.
Mas pretendi, também fazer, com o poema, um apelo aos governantes, magistrados e administradores de modo geral. É triste pensar que por muito tempo ainda o veremos trabalhando pela sobrevivência, praticamente sem chances de reverter ou de ver mudada sua aflitiva situação.
Você, com sua espontaneidade e ternura de poeta, sentiu-se naturalmente tocada em seu coração com a leitura dos versos porque, malgrado a pobreza estilística, eles expõem de forma um tanto contundente essa realidade.
Fico feliz com sua análise e grato pela gentileza do comentário.
Abraço afetuoso do
Sergio de Sersank
PAÍS DESENVOLVIDO É PAÍS SEM POBREZA.

Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 03/05/2012 05:22  Atualizado: 03/05/2012 05:24
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Mensagens: 18598
 Re: A FOME AFUGENTA O SONO
Os pregos andam silenciosos e o
martelo perdido no labirinto, pelos
sete mares de um coração. Obrigada. bjs